sábado, 15 de agosto de 2009

ESPERO NÃO ESTAR QUEBRANDO A MINHA PROMESSA, MAS ESTE ÁLBUM É UMA MARAVILHOSA COLETÂNEA DE SUCESSOS!

Eis o que ouço agora, pela segunda vez: “Dois” (1986), álbum de Legião Urbana, aquele que seus admiradores senso-comunais mais admiram. Logo no início, um admirável jogo metalingüístico com “Será”, faixa que eu não gosto tanto, mas que contém a admirável pergunta: “Brigar prá quê, se é sem querer?”. A resposta está na magnífica letra de “Daniel na Cova dos Leões”: “E o teu medo de ter medo de ter medo não faz da minha força confusão. Teu corpo é meu espelho e em ti navego e eu sei que a tua correnteza não tem direção”. Ótimo início de disco!

Faixa 02: “Quase sem Querer”. Segundo muitos, a grande confissão homossexual do compositor Renato Russo. Uma canção perfeita, da qual uma vez recebi os seguintes versos como provocação: “Quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria era provar pra todo o mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”. Quem mandou eu mexer com fogo? “Me fiz em mil pedaços pra você juntar e queria sempre achar explicação pro que eu sentia”. Eu não vejo o mesmo que o autor da provocação!

Faixa 03: “Acrilic on Canvas”. Não quero falar sobre ela! Lembram que eu já comentei a obsessão do compositor pelas variações da (im)perfeição, né? Ei-la novamente!

“É saudade, então
E, mais uma vez, de você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu,
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra”.

Faixa 04: “Eduardo e Mônica”, uma das obras-primas do Renato Russo, um belo relato sobre pessoas diferentes que se apaixonam e se completam “que nem feijão com arroz”. Os versos sobre cinema me conquistaram desde moço. Quem mais fala sobre Jean-Luc Godard e ainda assim toca no rádio, hein?

A fixa 5, “Central do Brasil” é curtinha e instrumental, mas a faixa 06, “Tempo Perdido” merece repeteco sempre. Impossível ouvir uma vez só! Hino geracional, maravilha reflexiva, brilhante melodia cíclica, letra sublime.

“Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido.
Somos tão jovens...
Tão Jovens! Tão Jovens!...”


Brilhante ironia derrotista! Daí por diante, o disco assume um tom mais politizando, abrindo espaço para a tristeza profunda em “Andrea Doria” (faixa 10) e culminando na força denuncista de “‘Índios’”. “Nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar e não consegui": eis as frases finais de uma belezura de disco. Tanto tempo que eu relutei em me entregar a estas canções – e agora elas não conseguem mais me deixar! “Quem um dia irá dizer que não existe razão para as coisas feitas pelo coração?”.

Wesley PC>

3 comentários:

Unknown disse...

Gosto muito de "Acrilic on Canvas", lembrei do dia da feijoada vegetariana que a gente conversou sobre idealizar um encontro com a pessoa amada, mas na hora do encontro ser muito diferente do que idealizamos.

Pseudokane3 disse...

Chuif...

WPC>

Anônimo disse...

Legião Urbana é uma das bandas mais criticadas por aqueles que se acham "entendidos". Mas digo: Eu gosto. O Renato Russo tem muita sensibilidade. Pena que muitos dos que ouvem não a percebem.


Rafael Torres.