sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ENTÃO, FUI VER O FILME...

...E, por incrível que pareça, não desgostei! Não que o filme seja bom, não é (parece que ele nem quis isso, aliás, visto que o entrecho não segura sozinho um bom enredo), mas algo na fidelidade possível do filme ao livro me cativou, talvez porque me identifique, conforme disse antes, com o dilema do anonimato profissional caro aos “escritores fantasmas”. Entretanto, um dos problemas do filme é não saber que linha tramática dar preferência: se aos problemas profissionais do protagonista (interpretado preguiçosa e antipaticamente por Leonardo Medeiros), se aos flertes românticos beirando o fantástico com a simpática húngara Kriska (Gabriella Hámori), se aos ciúmes abobalhados com sua esposa fútil Vanda (Giovanna Antonelli), se às homenagens supérfluas a cineastas como Peter Greenaway ou Theo Angelopoulos, etc....

É um filme que não tinha como dar certo, em minha opinião. Se o livro é agradável (e, mais do que isso, tornou-se um elo pessoal entre eu e um ser vivo querido), é porque o suporte literário permite reflexões muito interessantes sobre conotações e minúcias idiomáticas. Em matéria de cinema, o material absorvido do livro render-se-ia à pura narratividade, que é o que menos chama a atenção na obra original de Chico Buarque. Que seja, talvez por estar com as expectativas em baixa, fui me deixando levar pela atmosfera errante do filme e achei-o regular, povoado de cenas desprezíveis (vide a briga na festa de promoção jornalística da esposa do protagonista ou a discussão na mesa de jantar por causa do enjôo de espaguete), mas minimamente agradável, merecedor de uma cuidadosa observação. Admito que as focalizações vaginais do filme são manipuladas de maneira a agradar um público-alvo que não vai consumir o filme, mas as reflexões sobre o próprio ato de escrever, o samba praiano cantado em turco, a participação especial do músico-escritor Chico Buarque e o final (êtcha, escorregou) otimista fizeram valer o preço do ingresso. Então, se alguém que estiver a me ler agora dispuser de um tempinho livre esta semana, não custa nada conferir o filme, a fim de que tenhamos uma acalorada conversa depois. Que tal?

“Budapeste” (2009, de Walter Carvalho): em exibição no Cinemark do ‘shopping’ Riomar às 14h desta semana e da próxima.

Wesley PC>

4 comentários:

Annita! disse...

o livro e um escandalo de narrativo, o filme vou ver...

Pseudokane3 disse...

Não acho o livro narrativo, acho=o reflexivo, metalingüístico. O problema do filme, obviamente, foi querer aproveitar aquela historinha xôxa e transformar nalgo interessante... mas, quando se dispõe a traduzir fielmente o livro, é bem-sucedido.

pedi pro Perfeito ver ontem... e veja também... Depois a gente discute, que tal? Pessoalmente, aliás, né?

WPC>

Anônimo disse...

Eu não li, não vi, e nem vou discutir. Tô por fora.


Rafael Barba.

Pseudokane3 disse...

Dá tempo ainda (risos)
Chiquinho merece o esforço, juro!

WPC>