sábado, 15 de agosto de 2009

FRASE FÍLMICA DE SÁBADO – II: “É O TEU CATARRO, TIRA O SABOR DAS IGUARIAS”...


Apesar de eu ter certeza de que “Alma Corsária” (1993, de Carlos Reichenbach) seria um ótimo filme, não imaginaria que ele teria um efeito tão profundo sobre mim e nem tampouco creria que esta imagem de divulgação (à primeira vista, feia e/ou vulgar) pudesse ser tão sublime na tela. O que está acontecendo ali? Simples: um homem do povo, insuspeito, entra numa pastelaria em que está sendo lançado um livro de memórias e começa a tocar “Clair de Lune”, do Claude Debussy, enquanto um halterofilista dança, ao ritmo da singela melodia. Linda cena!

Por que “Alma Corsária” me tocou tão profundamente? Porque todas as nossas indagações geracionais estão lá. E quando digo “nossas”, refiro-me a mim mesmo, a Ferreirinha, a Bruno/Danilo, a Rafael Maurício, a Rafael Torres, a Juliana, a todos nós de Gomorra. Na apresentação do filme, o próprio diretor anuncia que “o filme que vocês verão a seguir é baseado na vivencia de personagens reais, nas memórias de minha geração, em que os sentimentos extremos, a amizade e a utopia estavam acima de tudo”. Vi na tela inúmeras passagens pessoais de minha própria vida grupal! Vi na tela trocentas indagações de meus amigos, reflexões de inúmeras conversas que tivemos juntos. Acho que não preciso falar muito sobre o filme. Melhor é programar uma sessão urgente em Gomorra e/ou fora dela, gravar N cópias e sair distribuindo pela Universidade...

Porém, o que mais me chocou na sessão é que Rosane de Castro, minha mãe, confessou-me a primeira reminiscência pessoal da era da ditadura, vista de longe por ela, no sertão paraibano. Tendo estudado somente até os 13 anos de idade, minha mãe era lavradora desde esta época. Trabalhou também numa fábrica, onde traumatizou-se ao ver os cabelos de uma operária serem sugados por uma máquina têxtil. Foi lacerada por um acidente de pau-de-arara quando atravessava o Nordeste até chegar a Sergipe, onde ficou até hoje. E assistiu, no teto de um sobrado, à execução inclemente de um grupo de estudantes ricos pelo Exército, em meados da década de 1960, quando beirava os 20 anos de idade. Ela nunca havia me falado sobre isso! Fiquei emocionado com suas palavras... Minha mãe tem História (com H maiúsculo)!

Wesley PC>

Um comentário:

Anônimo disse...

E quem não tem, Wesley...