quinta-feira, 20 de novembro de 2008

AS PECHAS BURGUESAS DO CINEMA E DA VIDA


Ontem eu precisei esperar uma amiga no ‘shopping center’ e fiquei irritado com a algazarra dum grupo de meninas desmioladas que se sentaram a meu lado. Fiquei tão impaciente com aquela gritaria, com aquele festival de atrocidades acéfalas, que me pus a ler desesperadamente qualquer coisa que encontrasse dentro de meu bornal rasgado (cujo zíper, as mãos fortes de Marcos Miranda tentaram consertar!). Entrei em contato, portanto, com o mesmo tipo de informação histórica que havia adquirido horas antes, na fila de espera de um banco, em que li sobre a conotação de classe indissociável aos primeiros filmes da História, quase todos eles vinculados a experiências pessoais da família Lumiére: a viagem de trem em que chegariam seus parentes, a saída dos funcionários explorados em sua fábrica, burgueses jogando cartas, etc..

Um de meus preferidos é este que mostro: “O Almoço do Bebê” (1895), obra-prima dramática de menos de 1 minuto de duração, em que o filho do diretor Louis Lumiére enche a barriga de comida enquanto observadores posteriores e atentos como Jean-Luc Godard e Ismail Xavier iriam notar que, para além do bebê em primeiríssimo plano, as folhas das árvores lá atrás estão se movendo. As folhas da árvore se movem com o vento. Há movimento! Cinema é movimento!

Enquanto leio um pequeno livro do sociólogo Stuart Hall sobre a localização cultural do sujeito nesta mixórdia de influências e referências que é a era pós-moderna (quiçá, já superada pela hiper-modernidade), relembro que passei a madrugada de hoje acordado na casa de uma grande amiga longeva, que sempre bebeu muito, fez muito sexo e hoje encontra-se casada com um requintado consumidor de vinho e fazedor de pastéis, com um gracioso filho loiro para criar e um salário gordo proveniente de seu trabalho numa emissora de televisão. As folhas da árvore se movem com o vento. Há movimento. Vida é movimento também. Logo, vida é cinema?

Wesley PC>

Um comentário:

Meryone disse...

odeio raparigas estúpidas

e adoro marilyn manson

há movemento, e há cinema

beijos. outra vez