segunda-feira, 24 de agosto de 2009

SE EU ME PERMITISSE SER FELIZ – II: TERMINANDO COM O COMEÇO!


Depois de uma tarde de pequenas e cumulativas frustrações, finalmente tive a coragem de assistir ao primeiro filme da maravilhosa série sobre as Quatro Estações do cineasta francês Eric Rohmer: “Conto da Primavera” (1990). Se digo aqui “arriscar-me”, nada tem a ver com a qualidade do mesmo, que sabia ser superior, mas com o fato de que o filme estava sem legendas e, se já é difícil acompanhar uma conversa de 45 minutos sobre o apriorismo kantiano versus a fenomenologia husserliana em minha língua natal, imagina no francês hermético dos professores de Filosofia continental? Com toda a imodéstia característica de minha pessoa, creio que consegui entender pelo menos 60% do filme – e encantei-me com a sua simplicidade, com a loquacidade típica do cineasta, com aquela sensação de improviso actancial... Tanta coisa acontece naqueles minutos de projeção e, ao mesmo tempo, tão poucas... Tanta mudança, tanta permanência, tanto aproveitamento exemplar das condições climáticas... Belo filme!

Na trama, uma professora de Filosofia sai de sua residência e passa um tempo vivendo com uma moça temperamental, admiradora e executora schumanniana, que conhece numa festa. Esta última tem ciúmes da namorada jovem de seu pai, crente de que esta é cleptomaníaca. Quando a professora conhece seu pai, ela crê que os dois possam se envolver romanticamente. Envolvem-se. “Sou fascinada pela lógica do 3”, diz a professora, citando Blaise Pascal, entre outras referências tarimbadas. “A vida é bela” será a última frase proferida no filme. Não vou dizer como nem por que ela se dá, mas é lindo o contexto, é esperançoso, é real!

Vendo este filme, pude esquecer alguns probleminhas familiares que tiram meu sono e aumentam a minha fome nestes dias recentes. Ou o contrário. Ou não! Eric Rohmer é uma estranha espécie de otimista: tem consciência das incongruências mundanas, mas lida bem com o conformismo. Deveria tê-lo conhecido a fundo faz tempo. Entretanto, não me é fácil recomendá-lo a outrem. O ritmo difuso de suas belas elegias tramáticas, a necessidade de um arcabouço literário e filosófico apurado e a subsunção extremada a um tipo de amor que beira a pieguice tautológica fazem dele um cineasta subestimado. Pena... Descobri na prática para que serve o caramanchão que vi no Parque da sementeira mais cedo!

Wesley PC>

Nenhum comentário: