quarta-feira, 26 de agosto de 2009

“FIDELIDADE É UMA COISA RUIM. QUEM DECIDE SER FIEL SEMPRE ACABA SOZINHO”...

Lembro como se fosse hoje. Era um domingo de 1992. “Cinema Paradiso” (1988, de Giuseppe Tornatore) estava sendo exibido na TV pela primeira vez. Eu não tinha televisão em casa. No outro dia, todos os meus colegas de classe estavam falando sobre o filme. No final daquela semana, leio uma crítica emocionada sobre o filme num jornal de circulação nacional, que minha mãe me trouxe quando seus patrões jogaram fora depois de terem lido... Uma das lembranças mais calorosas (e dolorosas) de minha infância voltou à tona hoje!

Revi este filme num contexto completamente diferente das primeiras 20 vezes em que o vi: 50 minutos adicionais de cenas reeditadas, um conhecimento pessoal mais rebuscado da morte (este ano, perdi um amigo e um cachorro leal, entre outros), nostalgia à flor da pele, a consciência de que posso desaparecer a qualquer segundo... Chorei copiosamente. Chorei mesmo! Meus olhos alagaram, fiquei preocupado em ter um ataque de asma, de tanto que eu ofegava ao final do filme! Queria que minha mãe estivesse comigo na sessão, mas, por fim, foi melhor que eu estivesse só... Chorei bastante! O filme fica mais lindo à medida que os anos (e o peso dos mesmos) se passam...

Creio que não caiba aqui falar sobre o que é o filme: amor ao cinema? Saudade? Culpa? Necessidade de ir embora? Amor proibido? Chances perdidas que jamais terão volta? Morte? Dor? Iniciação sexual? Loucura como consolo? Família? É impressionante como o primoroso roteiro do diretor consegue captar tudo o que sentimos e tememos através das três fases etárias do personagem Totò (vivido pelo Salvatore Cascio na infância; pelo sensual Marco Leonardi na adolescência; e pelo digno e triste Jacques Perrin na idade madura), de maneira que é impossível para qualquer ser vivo conter o choro na extraordinária seqüência final. Obra-prima!

Sinto-me incapaz hoje. Pela segunda vez num mesmo dia, um filme me fez constatar que, ao contrário da maioria das pessoas, descobri o que pior poderia ser descoberto na infância e, como isso, sinto-me agora preparado para enfrentar o que chamam de vida. Pior: mal constato isso e logo percebo que é um engodo. Como sou frágil! Como sou imbecil! Como me deixo cair por qualquer rosto virado, qualquer frase de discórdia, qualquer demonstração de indiferença... Nem preciso dizer quem foi que eu vi hoje, né? Quem foi que lançou um já característico olhar de ódio contra mim. Nada valho!

Vejam o filme... Explica melhor qualquer coisa do que sinto do que qualquer palavra que eu possa escrever. Depois de verem o filme, revejam-no imediatamente! E, mais importante que tudo, vivam, antes, durante e depois – se puderem, vivam!

Wesley PC>

Um comentário:

Anônimo disse...

Bonito texto, amigo. Nem sei o que falar. Saudades, espero te vê logo. te amo.


Rafael Barba