sexta-feira, 12 de junho de 2009

SERIA “BUDAPESTE” UM ROMANCE FILMÁVEL?


“Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silencio; um dos silêncios acaba sugando o outro, e foi quando eu me voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso. E assim permanecemos meia hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras húngaras”.

Assim Chico Buarque escreve na página 61 da edição da Companhia das Letras de seu romance escrito em 2003. Faltam poucas páginas para que eu termine de ler o romance e estou deveras intrigado em imaginar o que o consagrado diretor de fotografia Walter Carvalho fez com que este material enredístico em sua estréia como diretor-solo. A trama do romance é tão glotológica, tão subjetiva... Como será que ele transmitiu para a tela os questionamentos idiomático-sentimentais do protagonista? Substituindo os morfemas por diferenciações entre os sistemas de plano cinematográfico americano e europeu, por exemplo? Talvez esteja curioso, mas uma passada rápida de olho pela sinopse do filme e pelo elenco escolhido para vivificar os personagens não me encheu de encanto.

Fica a leveza da citação acima, talvez a mais bela do livro até então, numa situação que me fisgou particularmente, em virtude de um pecado [a (des)obediência instintiva] que cometi na quarta-feira, chateando alguém que admiro. Lerei o restante do livro. Entre outras coisas, arte expurga aquilo que nos faz mal...

Wesley PC>

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