sexta-feira, 12 de junho de 2009

E AGORA, DEUS MEU? É MESMO UM MUNDO CRUEL?


Não consigo responder. Talvez eu tenha chegado ao nível esquizofrênico de resignação a que teóricos de renome como Michel Foucault, Felix Guattari ou Gilles Deleuze se referem quando analisam o comportamento estrebuchante de pessoas que insistem em manterem consciência crítica na atualidade anômica que nos circunda. Sou um destes, logo padeço de males psicológicos que, na melhor das hipóteses consoladoras, são meros sintomas dos tempos hodiernos. Se isto me prejudica? Sim, mas sobrevivo.

Por que isto me voltou à tona agora? Porque ontem vi “O Silêncio de Lorna” (2008), novo petardo dramático dos irmãos belgas Jean-Pierre & Luc Dardenne, e, ao contrário dos meus amigos presentes à sessão, interpretei equivocadamente o filme, no sentido de que substituí hermenêutica e subjetivamente a crueldade inexorável dos tempos atuais que o filme mostra por uma resignação imaginária, condizente mais com meu modo quiçá covarde ou desistente de enfrentar o mundo que com a postura psicopaticamente avançada da protagonista.

Sobre o que fala o filme? Sobre uma imigrante albanesa que se casa com um viciado em heroína a fim de conseguir a cidadania belga. Este deseja abandonar o vício, mas todos nós sabemos como isto é difícil e, nalguns casos, impossível. Ela precisa se manter indiferente ao sofrimento dele, visto que planeja um divórcio relativo ao casamento de fachada, pois terá que obter novo matrimônio falso com um imigrante russo, cujos métodos cruéis beiram a máfia. O viciado morre, de forma não explicada pelo roteiro vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Sabemos que fora vítima de uma overdose – e só. A partir de então, ela se imaginará grávida do defunto, a quem se apegara tardiamente. Terá que abortar, supondo que a gravidez fosse confirmada. Precisa fugir ou será morta. Mas, em meio a todos estes dramas, ela é obrigada a dançar uma música romântica com um homem que não ama, que a odeia, que odeia a si mesmo... É um filme cruel, é uma cena falsa esta da foto, uma das mais belas imagens do cinema contemporâneo. Maravilha!

E se o mundo é cruel? Talvez, mas... Como eu sempre digo: “oh, como é bom viver, como é bom ser virgem!”

Wesley PC>

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