domingo, 7 de junho de 2009

O TERCEIRO ‘WUXIA-PIAN’ DE ZHANG YIMOU


O cineasta chinês Zhang Yimou tornou-se mundialmente conhecido em 1991, quando seu clássico “Lanternas Vermelhas” foi lançado. À época, ele era casado com a musa Gong Li, estrela de seus principais filmes, até meados da década de 1990. Sem ela, ele decaiu bastante no plano estilístico e pudemos conhecer verdadeiros gênios do cinema de seu país, até então obnubilados sob sua fama. Em 2002, porém, Zhang Yimou surpreendeu seus fãs, ao realizar um típico filme de ‘wuxia-pian’ (artes marciais históricas), que, não obstante ser ótimo [o filme em questão é o polivocal e multicolorido “Herói”], revelou um desespero tremático: Zhang Yimou não sabia mais o que filmar! Dois anos depois, ele dirigiu o belo, insípido e inverossímil “O Clã das Adagas Voadoras”, o que só atestou a sua falência criativa. Realizou uma co-produção com o Japão em 2005, [“Um Longo Caminho” (2005), filme tão discreto que, até dois minutos atrás, eu sequer conhecia, mas, por leituras alheias, percebo que contém o mesmo viés piegas e equivocado de trabalhos tardios como “Nenhum a Menos” ou “O Caminho Para Casa”, ambos de 1999] e, em 2006, realizou o filme que acabo de ver, “A Maldição da Flor Dourada”. É sobre ele que quero dizer algumas palavras:

Não obstante a fotografia arrebatadora de Zhao Xiaoding, o retorno da musa Gong Li e a surpreendente atuação de um envelhecido e competente Chow Yun-Fat, o filme decepciona. Não porque seja ruim, longe disso, o filme é até deveras agradável, mas porque o diretor, em sua suposta necessidade de agradar as platéias de seu país, realiza inúmeras concessões temáticas e estilísticas, de maneira que até minha mãe, que viu o filme comigo, chateou-se com o vazio enredístico que se desenrola por quase 2 horas de duração. Nesse tempo, situado no século X d.C., acompanhamos o drama da Imperatriz Fênix (a extraordinária Gong Li), que é diariamente envenenada por seu marido e mantém um caso extraconjugal com seu enteado. Quando pede que uma espiã descubra se está realmente sendo envenenada, descobre que estão pondo cogumelos negros venenosos provindos da Pérsia em seu chá e que a primeira esposa de seu marido ainda está viva. Pior: que seu amado enteado tem um caso ilícito com a própria irmã (sem o saber, obviamente). A partir de então, ela costura dez mil emblemas de crisântemos em armaduras e convence seu filho legítimo mais velho a tramar um golpe contra o pai. O resto é História!

Conforme se pode perceber, a trama deste novo filme é muito mais acessível que seus ‘wuxia-pian’ anteriores, mas não consegue atingir o mesmo furor positivo ideológico de “Herói” nem a sedução plena dos sentidas contida no falho “O Clã das Adagas Voadoras”. Vale enquanto experiência, portanto, mas nem de longe consegue extinguir as saudades extremadas que sentimos do genial, contido e apaixonante Zhang Yimou de outrora...

Wesley PC>

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