terça-feira, 9 de junho de 2009

A ATIPICIDADE TÍPICA


Todas as manhãs de terça-feira, eu tenho folga. Mas, na manhã de hoje, foi diferente: acordei muito cedo, comi uma papa de macaxeira com feijão e tive que visitar uma colega de trabalho, a quem estou ajudando num trabalho de conclusão de curso. Enquanto digitava, acompanhei ela chorar ao telefone, quando explicava a sua mãe que a recusa de seu pai em tomar remédios é apenas um anúncio natural da aceitação de sua morte. Ele está com câncer de próstata. Completará 80 anos no dia 21 de junho, se sobreviver. O mundo tem dessas coisas...

Na hora do almoço, enfrentei o velho problema: a mesma discussão de sempre sobre o porquê de eu não comer carne. Mas, sobrevivi. O marido dela me olhava por cima, como se me achasse estranho. Eu, estranho? Lembrei, então, de um filme que tinha tudo para marcar a minha infância: “Bem-Vindo à Casa de Bonecas” (1995, do sádico Todd Solondz) em que uma menina esquisita (vivida pela futura lésbica juvenil Heather Matarazzo) é hostilizada em casa, no colégio, nas ruas, onde quer que haja gente, por ser estranha, por ser brega, por ser feia, por ser anacrônica... Como toda idiota hostiliza, ela se apaixona por quem não deve, um talzinho popular, que a humilha, que se apropria de seu parco dinheiro, que desfila acompanhado por outras mulheres (bonitas) em frente a ela, que sonha, coitada, que espera, que se ilude...

Como o diretor não tem pena dela (típico dele, aliás), ela permanecerá para sempre sozinha (o belo e justificado desfecho cruel do filme é de uma evidencia patológica), visto que, de tanta humilhação e sofrimento, tornou-se incapaz de perceber que, ainda assim, há quem goste dela pelo que ela é, neste mundo injusto e divino em que vivemos. Bem-vindo ao meu universo!

Wesley PC>

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