domingo, 7 de junho de 2009

DÁ PRA VER A SOLIDÃO ASSIM NA CARA?


Esta é a proposta do filme em 5 segmentos, “Coisas que Você Pode Dizer Só de Olhar Para Ela” (1999), estréia no cinema de Rodrigo García, filho do escritor colombiano ultra-prestigiado Gabriel García Marquez, autor de um romance que, com certeza, está na lista dos “10 mais” de todos que o leram, mas que eu ainda não consegui alcançar: “Cem Anos de Solidão”, citado no filme pela personagem cega de Cameron Diaz. Depois que eu ler “Budapeste”, do Chico Buarque, será este o romance no qual depositarei as minhas lamúrias – e/ou descobrirei novas, visto que já conheço o precioso estilo do autor, graças a uma magnífica coletânea de contos reunidos na edição de “A incrível e Triste História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada”. O autor conhece a dor, o sexo e a dor (nesta ordem). Anseio desde já!

Mas voltemos ao filme, visto na manhã de hoje: são cinco estórias interligadas. Na primeira, uma obstetra infeliz (Glenn Close) cuida de sua mãe inválida, rouba seus brincos e se apavora quando uma jovem lésbica lê o seu destino de penúrias nas cartas de tarô; na terceira estória, uma dedicada mãe sente-se atraída por seu novo vizinho anão; na quarta, a jovenzinha que lê tarô no primeiro episódio (Calista Flockhart) lamenta a agonia terminal de sua amada (vivida pela talentosa e expressiva Valeria Golino); e, na última, duas irmãs (uma detetive, outra cega) elucubram sobre as razões que levaram uma conhecida a se suicidar, ao passo em que tentam resolver os seus problemas sentimentais. Entretanto, a estória que mais me agradou foi a segunda, discreta, em que a gerente de um banco (pungentemente interpretada por Holly Hunter) engravida de seu amante casado e, depois de ser interpelada várias vezes por uma mendiga loquaz que a tacha de “nojenta”, deixa balas da cabeceira de um homem infiel com quem faz sexo e despenca em choro (choro mesmo!) depois que pratica um aborto. Vou repetir no que ela despenca: choro, muito choro! E a cena é espetacular, perfeita, do cruel jeito que eu aprendi que acontece no mundo!

Apesar da sublimidade desta seqüência final do segundo episódio, no geral, o filme incomoda por sua pretensão dramatúrgica (vide os enquadramentos rigidamente oblíquos na primeira estória) e pela experiência feminista que o diretor insiste em demonstrar e que voltaria ainda mais aguçada em “Nove Vidas” (2005), rodado inteiramente em planos-seqüências, utilizando basicamente o mesmo elenco. A trilha sonora de Edward Shearmur (que conta com a participação relevante do trompetista típico dos filmes de Spike Lee, Terrence Blanchard) força a barra, implora por nossa adesão lacrimal e nem sempre consegue, mas que, na pior das hipóteses, o filme é uma gracinha, ah, isto é. Preciso ler o romance citado no primeiro parágrafo com urgência. Alguém tem para me emprestar?

Wesley PC>

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