Por volta das 17h, resolvi ingerir Coca-Cola, refrigerante
que costumeiramente evito, mas que, naquele momento em especial, servia como um
indutor masturbatório, visto que a visão de uma bunda deliciosa, parcamente
coberta com tecido alaranjado, me deixou simbolicamente excitado. Na TV,
começava um filme muito elogiado por alguns conhecidos: “Heleno” (2011, de José
Henrique Fonseca), sobre um famoso jogador do Botafogo, Heleno de Freitas, que,
na década de 1940, brilhou nos gramados brasileiros, não obstante estragar a
sua vida com empáfia, promiscuidade sexual e uso continuado de algumas substâncias
tóxicas. Iria morrer na década seguinte, por conta das complicações de uma sífilis,
odiado por alguns, esquecido pela maioria...
No filme – visualmente influenciado por “Gilda” (1946, de
Charles Vidor), inclusive na escolha da fotografia em preto-e-branco e na
vestimenta da cantora de tango com quem o jogador se envolve – há pelo menos
uma seqüência maravilhosa: em sua narrativa alinear, vemos Heleno de Freitas
passeando pela praia com um amigo, já decadente. Alguns garotos pedem-lhe um
autógrafo, mas ele responde de forma ríspida, visto que, depois que sua esposa
casa-se com outro homem, levando consigo o filho pequeno, o jogador passa a
detestar crianças. O amigo insiste para que ele agrade aos meninos, o que leva
Heleno a surtar: “darei um autógrafo àquele que conseguir me socar no queixo!”.
Um dos guris, o mais alto, consegue, e Heleno lhe dá uma determinada quantia em
dinheiro, com a seguinte recomendação: “gaste-o todinho com sorvete e cinema,
não fique o dia inteiro jogando futebol. Há outras coisas além disso na vida –
e elas são muito boas!”. Voltei a ficar excitado nesta cena, apesar de o filme
ser insípido e de o protagonista Rodrigo Santoro está desenxabido, não obstante
oferecer-nos uma boa personificação...
No quintal, enquanto eu via o filme, meu irmão gritava,
embriagado: “quando eu estiver com o meu revólver, meto bala em qualquer viado
que vier me chamar aqui em casa!”. Na varanda, nossa cachorra ‘poodle’ estava
aprisionada, pois mordera o pé de minha mãe no dia anterior. O diretor do filme
é filho do extraordinário escritor Rubem Fonseca, ao passo em que, do lado de
fora, o portador da bunda deliciosa que me fez ingerir Coca-Cola após vários
meses se embebedava, parecia feliz, cercado de amigos e uma mulher que o
amava... Viver é bom!
Wesley PC>
Nenhum comentário:
Postar um comentário