O título desta publicação é um absurdo truísmo, mas sirvo-me
deste aspecto de manchete sensacionalista para atestar o quanto fiquei positivamente
impressionado com “Estação Central do Cairo” (1958, de Youssef Chahine), mais um
ótimo filme que eu descobri graças ao essencial guia “1001 Filmes para Ver
Antes de Morrer” (no caso, na edição de 2008, de que disponho)...
Na trama, o próprio diretor interpreta um rapaz manco que,
sendo adotado por um vendedor de jornais, trona-se também jornaleiro. Masturbador
contumaz, ele coleciona recortes de mulheres nuas no mocambo onde vive, mas é
obcecado por uma linda vendedora de refrigerantes contrabandeados chamada Hanouma
(Hind Rostom), que, por sua vez, pretende se casar com o seu patrão Abu-Serih
(Farid Shawqi). Este se interpõe com a decisão de alguns de seus empregados em
se sindicalizarem, enquanto que, na estação ferroviária onde essas histórias
acontecem, vários outros dramas cotidianos se intersecciona, como o sofrimento
da garota apaixonada por um rapaz que vai estudar noutra cidade e que é
rejeitada pela família dele, que não permite sequer que ela se despeça no dia
de sua partida. Ela chora. Ele vai embora, acenando para sua irmã e seus
sobrinhos... Enquanto isso, o jornaleiro esfaqueia uma amiga de Hanouma,
enciumado com os delírios casamenteiros da moça, que servirão de tática
empregada por seu pai adotivo para que ele vista as mangas de uma
camisa-de-força como se fosse um manto nupcial...
Uma trama novelesca, eu sei, mas surpreendentemente
conduzida para a época (e para o contexto muçulmano, claro!), com uma eficiente
trilha musical de Mouad El-Zahry que, se não merece ser demoradamente elogiada
aqui, é porque parece um plágio descarado da partitura de Miklós Rózsa para o
clássico “Farrapo Humano” (1945, de Billy Wilder). Deveras providencial ter
descoberto este gracioso filme egípcio quando o platonismo se instala
violentamente sobre mim, como de praxe!
Wesley PC>
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