segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

PESSOA TRISTE É AQUELA QUE NÃO CHORA...

E, tendo visto mais uma obra-prima do Ozualdo Candeias, o média-metragem “Zézero” (1974), insisto em gritar que o torna um dos melhores diretores de todos os tempos e cinematografias mundiais não é apenas a qualidade de seus filmes, mas o fato de ter criado uma linguagem própria: cada uma de suas obras, além de contar com a sua participação/intervenção em diversas funções, é uma aula de armengue estilístico com intensa verve militante. É o que acontece aqui...

Logo no começo, um típico camponês recebe a visita de uma espécie de avantesma feminino, coberta de pedaços de película fílmica, mostrando-lhe diversas notícias sensacionalistas de jornal, tônica que é sarcasticamente acompanhada pela trilha sonora. O alvo da aparição é analfabeto, entretanto. Migra para a cidade, onde consegue um emprego como pedreiro. Manda parte do pouco dinheiro que consegue para a família enquanto trepa com prostitutas com o que sobra. Até que ele tenta violenta uma delas, que foge. Enquanto se masturba, ele constata que ganhou na loteria esportiva: ficara milionário! Porém, a sua família morrera num trágico acidente. “O que fazer agora com todo o dinheiro que ganhou?”, pergunta a sua consciência. “Enfia no cu”, repete a voz do avantesma, ais de uma vez, até que a sua boca fica congelada como se fosse um ânus. Genial!

Só por mostrar o pedreiro se banhando, num contexto trágico e mui realista, eu já desenvolvera uma relação pessoal de identificação e desejo com este filme soberbo. Mas o diretor caminhoneiro foi mais longe... Como não se encantar por ele? E querer chorar... Por estar vivo, por sobreviver!


Wesley PC> 

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