E, tendo visto mais uma obra-prima do Ozualdo Candeias, o
média-metragem “Zézero” (1974), insisto em gritar que o torna um dos melhores
diretores de todos os tempos e cinematografias mundiais não é apenas a
qualidade de seus filmes, mas o fato de ter criado uma linguagem própria: cada
uma de suas obras, além de contar com a sua participação/intervenção em
diversas funções, é uma aula de armengue estilístico com intensa verve
militante. É o que acontece aqui...
Logo no começo, um típico camponês recebe a visita de uma
espécie de avantesma feminino, coberta de pedaços de película fílmica,
mostrando-lhe diversas notícias sensacionalistas de jornal, tônica que é
sarcasticamente acompanhada pela trilha sonora. O alvo da aparição é analfabeto,
entretanto. Migra para a cidade, onde consegue um emprego como pedreiro. Manda
parte do pouco dinheiro que consegue para a família enquanto trepa com
prostitutas com o que sobra. Até que ele tenta violenta uma delas, que foge. Enquanto
se masturba, ele constata que ganhou na loteria esportiva: ficara milionário!
Porém, a sua família morrera num trágico acidente. “O que fazer agora com todo
o dinheiro que ganhou?”, pergunta a sua consciência. “Enfia no cu”, repete a
voz do avantesma, ais de uma vez, até que a sua boca fica congelada como se
fosse um ânus. Genial!
Só por mostrar o pedreiro se banhando, num contexto trágico
e mui realista, eu já desenvolvera uma relação pessoal de identificação e
desejo com este filme soberbo. Mas o diretor caminhoneiro foi mais longe...
Como não se encantar por ele? E querer chorar... Por estar vivo, por
sobreviver!
Wesley PC>
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