Finalmente assisti ao seminal (sem piada dupla) “Escola
Penal de Meninas Violentadas” (1977, de Antônio Meliande), produção que
disparou a violenta onda ‘sexploitation’ na Boca do Lixo, em que filmes e mais
filmes sobre gurias nuas aprisionadas eram lançadas aos borbotões! Apesar de
não ser efetivamente bom, o sadismo do roteiro merece ser destacado: na trama,
uma lésbica obsessiva disfarçada de freira implanta uma filial da república de
Salò num reformatório rural. Com a ajuda de um carrasco surdo-mudo e
sexualmente ativo, ela subjuga diuturnamente as internas, com a alegação de que
leva a crueldade a cabo para enfrentar o Diabo ao mesmo tempo em que parece
estar aderindo às suas práticas. “É uma forma de enganar o demônio”, explica a
louca. Não convence, mas isto rende seqüências de muito impacto, tanto
conteudístico quanto formal (a direção de fotografia do próprio Antônio
Meliande é muito boa, por exemplo) e erótico.
Num dado momento, quando se sente avassaladoramente tomada
por desejo sexual por uma interna recém-chegada (Sueli Aoki), a freira pede
para ser chicoteada por seu assecla aparvalhado, o que excita por extensão uma
de suas noviças. De repente, o chão sob a cama parece pegar fogo! Mais tarde,
ela despeja sal sobre uma garota cujas costas estavam repletas de feridas. A
menina desmaia, obviamente. Em seguida, é a vez de obrigar uma revoltosa a
comer lavagem de porco, rastejando na pocilga e, em seguida, beijar as suas
mãos e agradecer a Deus pela comida concedida... Situações de muito impacto,
não há como negar!
Os ‘flashbacks’ que explicam como as garotas foram parar no
reformatório também são impressionantes: uma é quase estuprada pelo padrasto
idoso e fortemente embriagado (ironicamente, ao som de uma canção cujo refrão
é: “bebida não faz mal a ninguém/ eu bebo, sim, estou vivendo/ tem gente que
não bebe e está morrendo”...); outra tenta se defender de uma curra e proteger
a virgindade; uma terceira esfaqueia o cafetão; e por aí vai...
Apesar de não ser bom, insisto, tecnicamente o filme é
impactante e, enquanto objeto de pesquisa, tenho muito o que abordar a partir
desta obra tão importante (e, ao mesmo tempo, tão ignorada) para o contexto
produtivo cinematográfico brasileiro: é mal-feito pacas, segundo critérios tradicionais
de avaliação, mas é uma verdadeira demonstração de arrojo em seu enfrentamento
criativo da penúria financiadora. Um filme seminal, portanto. Agora com duplo
sentido, visto que é tanta guria com os peitos de fora que, na moral: quem
gostava de bater punheta no cinema deve ter se esbaldado!
Wesley PC>
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