sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

QUANDO O PÃO FICA “TÃO DURO QUANTO CACETE DE TARADO”...

Finalmente assisti ao seminal (sem piada dupla) “Escola Penal de Meninas Violentadas” (1977, de Antônio Meliande), produção que disparou a violenta onda ‘sexploitation’ na Boca do Lixo, em que filmes e mais filmes sobre gurias nuas aprisionadas eram lançadas aos borbotões! Apesar de não ser efetivamente bom, o sadismo do roteiro merece ser destacado: na trama, uma lésbica obsessiva disfarçada de freira implanta uma filial da república de Salò num reformatório rural. Com a ajuda de um carrasco surdo-mudo e sexualmente ativo, ela subjuga diuturnamente as internas, com a alegação de que leva a crueldade a cabo para enfrentar o Diabo ao mesmo tempo em que parece estar aderindo às suas práticas. “É uma forma de enganar o demônio”, explica a louca. Não convence, mas isto rende seqüências de muito impacto, tanto conteudístico quanto formal (a direção de fotografia do próprio Antônio Meliande é muito boa, por exemplo) e erótico.

Num dado momento, quando se sente avassaladoramente tomada por desejo sexual por uma interna recém-chegada (Sueli Aoki), a freira pede para ser chicoteada por seu assecla aparvalhado, o que excita por extensão uma de suas noviças. De repente, o chão sob a cama parece pegar fogo! Mais tarde, ela despeja sal sobre uma garota cujas costas estavam repletas de feridas. A menina desmaia, obviamente. Em seguida, é a vez de obrigar uma revoltosa a comer lavagem de porco, rastejando na pocilga e, em seguida, beijar as suas mãos e agradecer a Deus pela comida concedida... Situações de muito impacto, não há como negar!

Os ‘flashbacks’ que explicam como as garotas foram parar no reformatório também são impressionantes: uma é quase estuprada pelo padrasto idoso e fortemente embriagado (ironicamente, ao som de uma canção cujo refrão é: “bebida não faz mal a ninguém/ eu bebo, sim, estou vivendo/ tem gente que não bebe e está morrendo”...); outra tenta se defender de uma curra e proteger a virgindade; uma terceira esfaqueia o cafetão; e por aí vai...

Apesar de não ser bom, insisto, tecnicamente o filme é impactante e, enquanto objeto de pesquisa, tenho muito o que abordar a partir desta obra tão importante (e, ao mesmo tempo, tão ignorada) para o contexto produtivo cinematográfico brasileiro: é mal-feito pacas, segundo critérios tradicionais de avaliação, mas é uma verdadeira demonstração de arrojo em seu enfrentamento criativo da penúria financiadora. Um filme seminal, portanto. Agora com duplo sentido, visto que é tanta guria com os peitos de fora que, na moral: quem gostava de bater punheta no cinema deve ter se esbaldado!


Wesley PC> 

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