segunda-feira, 3 de agosto de 2009

UMA LAPADA ‘PIMBA’ DE NOSTALGIA PARA QUEM ACEITA OS AMORES ANACRÔNICOS!


Peter Greenaway era o cineasta preferido de minha adolescência. Conheci aos 15 anos de idade e, até que entrasse na Universidade, consumia freneticamente todos os seus filmes disponíveis. Era fã, obcecado. A cada novo lançamento, nova descoberta de suas obras-primas da década de 1980, eu gemia, eu gozava, eu era hipnotizado! Com o adentrar da nova década, porém, o cineasta foi perdendo prestígio e originalidade, desgastando-se em fórmulas barrocas. Ou seja, um dos cineastas que melhor aplicaram as ditas “formas expressivas da contemporaneidade” (leia-se: multiplicidade, metamorfose e permutabilidade) no cinema foi justamente ultrapassado pela contemporaneidade. Ficou anacrônico!

Na madrugada de hoje, porém, por uma dadivosa coincidência, fui agraciado com uma cópia de “O Contrato do Amor” (1982), um dos poucos filmes do gênio inglês que eu ainda não havia visto. Assim que o pus no aparelho reprodutor de DVDs, minha mãe chiou: “lá vais tu novamente, Wesley, ver estes filmes doidos”. Nem eu sabia o quanto ela estava coberta de razão. A trama é uma elaboracionismo atroz, sendo impossível resumi-la aqui com precisão, mas é sublime, belíssima, nostálgica...

Basicamente, o roteiro enfoca a sujeição de um renomado desenhista a um contrato de uma aristocrata, que pede que seu jardim seja graficamente eternizado. Em troca, o desenhista receberia dinheiro e sexo. Porém, um assassinato é cometido e inúmeros adultérios são revelados. Contar mais é estragar o prazer de se ver esta preciosidade multimidiática, ou melhor, desfocar o interessa de uma magnífica peça artística, que parece ter sido filmada no próprio século XVII em que se passa a trama. A música onipresente e inebriante de Michael Nyman, a fotografia deslumbrante de Curtis Clark, a magnânima direção de arte. Cada minucioso aspecto deste filme beira a perfeição, mas o que mais me atingiu após o encerramento da sessão foi um efeito de nostalgia retrógrada: não amo o diretor com a mesma intensidade nos dias de hoje, mas, sempre que vejo um de seus filmes, tal impressão se esvai: ele é maravilhoso! Ele é divino!

Fiquei sem conseguir dormir até as 3 horas da manhã, relembrando aqueles sons e imagens e espantando-me com a quantidade de textos que eu imprimi sobre o diretor. O amei. Ainda amo. Fui afogado pela nostalgia! E, se eu não recomendo este cineasta para qualquer um, é porque ele é o supra-sumo da pimbice, e nem todo mundo aprecia. Mas que ele é divino, isto é, ninguém nega!

Wesley PC>

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