domingo, 2 de agosto de 2009

O TIPO DE COISA QUE FAZ A GENTE TER SAUDADES...


Sentei com minha mãe para ver um filme chinês chamado "Indo Para Casa” (2007). O diretor Zhang Yang dirigira filmes demasiado simplistas no passado, de maneira que não esperava muita coisa desta sua nova obra, apenas um passatempo comum entre mãe e filho. A trama era igualmente simples: um pedreiro pobre promete a seu melhor amigo que o levaria nas costas para ser enterrado na casa distante de sua família caso ele morresse. O outro amigo é quem morre, de tanto beber. O amigo vivo sente-se na obrigação de cumprir a promessa que o outro fizera. Carrega-o nas costas e sobe num ônibus, que é invadido por assaltantes armados com facas. Depois de roubar os pertences dos passageiros, um dos assaltantes chega até o protagonista e se emociona com sua dedicação amistosa. Desiste de assaltá-lo, mas os outros passageiros obrigam-no a descer do ônibus, com medo de se contaminarem com alguma eventual doença necrofílica. O coitado do pedreiro caminha alguns quilômetros com seu amigo morto nas costas. Encontra um albergue para passar a noite, mas roubam o seu dinheiro. Quando finalmente consegue uma carona de caminhão, o motorista entra em depressão quando uma música que o velho canta o faz lembrar de um amor perdido. Ele desce do veículo, arruma um jeito de comer simulando ser parente de um pseudo-defunto numa cerimônia fúnebre. Arranja uma carroça, derrapa, encontra um pneu para acondicionar o cadáver de seu amigo, conhece pessoas exploradoras e gentis na estrada. Chega até a se apaixonar por uma mendiga, cujo filho estuda na Faculdade de Economia e tem vergonha dela. Prometem se reencontrar, ele promete voltar, mas... Mas... Mas...

Antes que eu conte o final terno e comovente do filme (que deixou minha mãe deveras frustrada: “e depois? E agora?” O que posso dizer a ela? O mundo é assim, Rosane!), confesso que muito me lembrei dos viandantes Rafael Torres e Rafael Coelho durante a sessão. Lembrei muito, mas não parecia estar sentindo saudades. Era outra coisa. Era mais um questionamento do que é a falta, que nem fez Rubem Alves, quando definiu a saudade como “a presença da ausência”. Sentia a presença da ausência. Sentia a falta e, ao mesmo tempo, não me sentia no dever de exigir nada. Terminei por gostar do filme, mas, conforme me ensinou a repetir meu amado Coelhinho, “eu gosto mesmo é de vida real”!

Fiquem bem, Rafaéis queridos, onde quer que vocês estejam!

Wesley PC>

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