domingo, 7 de novembro de 2010

RÁPIDO, BOCETUDA! MATE! MATE!

Tudo bem que eu nunca duvidei que “Faster, Pussycat! Kill! Kill!” (1965), de Russ Meyer, seria uma obra-prima, mas fiquei surpreso, chocado, escandalizado quando, ao finalmente vê-lo, perceber o quanto ele é inteligente e ambíguo em seu discurso feminista. Ponho cá a interrogação: feminista? Não vejo porque não. Por que não? Exclamação!

Um fiapo de trama conduz a estória: logo na abertura, um narrador invade o espaço reservado à trilha de som para anunciar que “uma nova geração está surgindo: a geração faminta por violência, violência esta que assume diversas formas, inclusive... sexo!”. E ele estava sendo muito mais do que profético! No momento seguinte, somos apresentados às protagonistas do filme, que poderiam ser quaisquer umas, inclusive dançarinas de boate. E é o que elas são! Momento feminista – parte 1?

Numa cena posterior aos créditos, as ‘strippers’ vagam em seus automóveis esportivos pelo deserto, quando se deparam com um velocista. Ao vê-lo treinando, a líder do trio de ‘strippers’, Varla (vivida pela intensa Tura Satana), lança a primeira de suas grandes frases de efeito: “não sei que graça tem em lutar contra o relógio. Eu não faço isso. Prefiro derrotar pessoas. E não tento. Faço-o!” E por aí vai... Dois segundos foram mais do que bastantes para conheceremos por dentro esta personagem, da mesma forma que as asseclas vividas por Haji (a estrangeira Rosie) e Lori Williams (a lasciva Billie) são psicologicamente diagnosticadas em questão de segundos: uma ao acender um cigarro para sua chefa, outra ao rebolar freneticamente no calor do deserto, depois de ter se atirado feito louca num açude. Momento feminista – parte 2?

Depois que Varla quebra o pescoço do velocista, elas seqüestram a namorada adolescente dele e buscam guarita no rancho de um paralítico machista – indignado porque “as mulheres hoje votam, bebem e fazem sexo como qualquer homem” – que, por sua vez, tem dois filhos: um que lê até mesmo enquanto cose ou coze; e outro que é tachado de “Vegetal” tamanha a protuberância de seus músculos. Este é vivido por um tal de Dennis Busch, que, infelizmente, só participou deste único filme como ator. E foi para ele que meus olhos sequiosos convergiram na maioria das cenas. Momento feminista – parte 3?

A partir daqui, já posso anunciar o quanto o filme representou para mim em matéria de questionamento feminista: 1 – o diretor era fotógrafo da revista Playboy antes de se aventurar pelo cinema; 2 – não por acaso, ‘close-ups’ dos seios e dotes calipígios das atrizes são mais freqüentes que o próprio som de suas vozes; 3 – elas matam; 4 – elas batem; 5 – elas roubam; 6 – elas desejam e “não tentam, fazem-no!”; 7 – elas sentem fome, “e nem sempre é só de comida”; 8 – elas votam, elas bebem, elas fazem sexo livremente e elas brindam em homenagem a trens; 9 – parem de contar comigo e vejam o filme, genial até as tampas e, ouso dizer, genial, sim, este caralho!

Wesley PC>

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