segunda-feira, 8 de novembro de 2010

SOLIDÃO MAIOR QUE A MINHA?

São quase 4 horas da madrugada e eu terei que estar acordado em breve, mas um tormento interior me afligia, uma sensação similar a uma esposa de 45 anos, 21 deles compartilhado com o mesmo homem, que de repente o flagra beijando uma prostituta adolescente e sem escolaridade e, depois de muito chorar, encontra abrigo numa igreja vazia, em que o sacerdote chorava também, por não ter mais a quem pregar a palavra divina de que se acredita portador. Eis a melhor descrição metafórica possível para tentar exprimir que tipo de sensação me toma agora, depois de finalmente ter visto “Flesh” (1968, de Paul Morrissey) na íntegra: não é só gozo, é religião, é epifania!

Na primeira cena do filme, o teofânico exemplar de perfeição biológica Joe D’Alessandro jaz numa cama, com a televisão ligada. Sua esposa o espanca com uma toalha, conclamando a acordar, visto que precisa de US$ 200,00 para realizar o aborto de sua namorada. Ele sequer tem uma cueca limpa para vestir e, a fim de embalá-lo melhor para presente de sua clientela, sua esposa faz um laço com uma fita branca em seu pênis. “Estás pronto, vai trabalhar!”. E ele sai de casa, em busca de clientes. Primeiro, uma foda rápida. Depois, um trabalho como modelo, enquanto um artista idoso passa meia-hora explicando suas concepções artísticas envolvendo o culto ao corpo humano. Joe não presta atenção. Tem fome. “O que temos para jantar?”, pergunta ele. Comida”, é a resposta do velho. Em seguida, vemo-lo discursar com outros michês que não se pode escolher ser heterossexual ou não num trabalho como o que eles executam. “Faz-se o que se tem que fazer”. E ele faz: na cena seguinte, ele está cercado por travestis idólatras de Hollywood, que logo cedem espaço para um afetado homossexual que lhe realiza uma felação forçada. Ao chegar em casa, esgotado de tanto trabalhar, ele é tachado de preguiçoso por sua esposa, que está a dormir com a nova namorada grávida, na mesma cama em que ele desmaia de estafa e ciúmes. E eu, ao lado dele, ainda estava envolvido por aquela cena mágica em que ele, completamente nu, dá de comer a um bebezinho, misturando exíguos pedaços de bolo ao suor que escorre de suas axilas. Poesia ‘underground’ em estado bruto, uma das mais belas exaltações do ‘white trash’ norte-americano que já vi no cinema, superado pelo mesmo diretor e protagonista quatro anos depois, no ainda mais tétrico e brilhante “Trash” (1972), em que os motivos da prostituição são ainda menos nobres: o vício da heroína.

Sou um rapaz conservador. Não uso muitas das substâncias psicotrópicas que meus amigos tacham de “expansores do músculo cerebral” (termo de Arnaldo Baptista) e que a imprensa hipócrita tacha de “drogas”. Não bebo. Não minto. Não faço questão de ter dinheiro. Se obtivesse êxito no que sou obrigado a diagnosticar como paixonite, seria o homem mais fiel e devotado do mundo, mas... Por que me identifico tanto com este tipo de filme? Por que encontro conforto em obras que beiram/transcendem o pornográfico e descortinam um universo de miséria concomitante à sensualidade gritante? Por que esta eterna impressão de desamparo? Seria eu blasfemo? Seria eu indecente? Seria eu desesperado? Sou eu apaixonado! 3h56’ da madrugada.

Wesley PC>

3 comentários:

Debs Cruz disse...

Eu já te vi mentindo uma vez, viu?
kkkkkkkkkkkk

Pseudokane3 disse...

Quando?

WPC>

Anônimo disse...

A MENTIRA É ESSENCIAL,MEUS CAROS.COMO PODEMOS VIVER SEM ELA?RSRS