terça-feira, 9 de novembro de 2010

PIADA INTERNA: QUANDO VEM DE DENTRO E/OU VOLTA PARA LÁ MESMO!

Sintonizando alguns canais abertos e fechados de rádio e TV, pude perceber uma estranha revitalização do gênero humorístico conhecido como ‘stand-up comedy’, aquele tipo de comédia rápida em que um dado comediante sobre num palco, pega um microfone e improvisa, geralmente se servindo de exemplos ridículos pessoais (ou da platéia) para atingir o riso. Todo domingo, por exemplo, o programa do irritante apresentador de TV Fausto Silva é sintonizado por meus vizinhos, que hesitam em sorrir diante das piadas deste gênero que são destiladas na TV, mas acabam sorrindo, promovendo a revitalização de que falei no começo.

Pois bem, um dos fatores que mais dificultaram a apreciação do clássico “O Show Deve Continuar” (1979), obra-prima super-autobiográfica de Bob Fosse, entre alguns de meus amigos foi justamente a significativa participação que o enredo dedica a um destes tipos de comediantes, que tem funções dramatúrgicas renitentes tanto no plano sintagmático quanto paradigmático. No plano sintagmático, este cômico é o protagonista de um esquete fílmico que o protagonista tem a incumbência de editar, e que lhe causa estafa por não saber como fazê-lo, em meio à pletora de atividades profissionais e desordens sexuais de sua vida pessoal. No plano paradigmático, porém, as intervenções do cômico são ainda mais complexas: sua enumeração repetitiva de quais seriam os cinco principais estágios de enfrentamento em relação à morte é efetivo não somente no que tange ao falecimento vindouro (e espetacular) do protagonista como também ao que nós, espectadores e refratores, temos de similar a ele, enquanto seres humanos.

A base literária para as piadas ordinais do referido cômico (de nome de palco Frankie Man) encontra-se num livro da psiquiatra Elizabeth Kübler-Ross, que, em 1969, graças à publicação de seu “On Death and Dying”, propõe um modelo que leva o seu nome, composto pelos seguintes estágios progressivos: 1- negação e isolamento; 2 – cólera e raiva; 3 – negociação ou barganha; 4 – depressão; e, por último ou finalmente, 5 – aceitação: “tudo vai acabar bem”. Não vai!

Nas palavras chistosas do cômico, as reações correspondentes a tais estágios são melhor representadas pelos cinco monólogos a seguir:

1. “Não, não, não é bem isto não, não é isto está acontecendo não!”;2. “Pô! Que droga! Logo agora! Isto não pode estar acontecendo! Não vai ficar assim não!”;3. “Bom, e se eu fizer isto, (ou aquilo), será que não resolve? Deixa eu tentar”;4. “Éééééé... Não tem jeito mesmo. Eu sou um azarado mesmo. (Ou uma vítima, ou um desajeitado, ou um incompetente, ou...)”;5. “É. Já que não tem jeito mesmo, o negócio é deixar isso aí para trás e seguir em frente como der”.

Obviamente, não é somente em relação à morte que o Modelo de Kübler-Ross se aplica. Quando sabemos que um relacionamento (amoroso, amistoso, profissional, que seja) está prestes a chegar a um fim anunciado, as reações tendem a ser bastante similares. E, por ora, estou na fase da negação: não, não, não pode ser! Por que existe 17 de dezmebro neste calendário?!

Wesley PC>

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