terça-feira, 7 de setembro de 2010

SOBRE QUEM COMEMORA A PRIVATIZAÇÃO BEM-SUCEDIDA DA PAZ MUNDIAL...

Detestei “Homem de Ferro” (2008, de Jon Favreau) quando o assisti, recentemente. Não somente nunca tinha me interessado pelo personagem nos quadrinhos como desgostei solenemente da ode tecnocrática ostentada pelo filme ou da inverossimilhança do roteiro em tentar nos fazer crer que o mimado protagonista teria êxito nas agruras físico-químicas que o afligem. Detestei mesmo!

Por puro mecanicismo profissional, vi-me hoje diante de “Homem de Ferro 2” (2010, do mesmo Jon Favreau) e, para meu escândalo (repito: escândalo!), achei o filme ótimo até pelo menos 75% da projeção. Nem acreditei nisso, mas, juro! O filme é muito, muito melhor do que o primeiro. Analisando bem esta discrepância de qualidade entre o original (sic) e sua franquia, percebo que a alegada vantagem deste segundo exemplar talvez esteja num elemento espectatorial maravilhosamente diagnosticado pelo crítico norte-americano David Bordwell: a subsunção a um “contrato”, ou seja, a convenções genéricas que permitem que relevemos erros ou defeitos que, num contexto mais estendido, seriam prejudiciais. Assim sendo, entendo por que achei o narcisismo atroz do personagem principal muito mais “elogiável” agora, entendo por que não me contorci tanto na cadeira diante de sua declaração sobre a “privatização da paz mundial”, sendo ele justamente um bilionário herdeiro de uma indústria armamentista.

À medida que o filme vai se aproximando do desfecho, os clichês de filme de ação se acavalam, astros conceituados (Samuel L. Jackson, Sam Rockwell, Scarlett Johansson) se desperdiçam em papéis ruins, o bom desempenho demonstrado por Gwyneth Paltrow no primeiro filme soçobra e o crível vilão russo interpretado por Mickey Rourke transforma-se num bibelô malévolo. Mas era tarde demais: Hollywood me fisgara! Quase tenho vergonha de admitir, mas achei esta continuação muito boa, mas nada que me autorize a ver um terceiro exemplar que, pelo andar da carruagem (conflitos tramáticos mal-resolvidos, personagens ainda sedentos por vingança ou exibicionismo militar, piadinhas antecipatórias disseminadas nos créditos finais, etc.), chegará às telas de cinema muito em breve... Oh, Hollywood dos meus pecados!

Wesley PC>

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