terça-feira, 7 de setembro de 2010

PORQUE EU ACREDITO (E ME INSPIRO NO ALEJANDRO AMENÁBAR)!

Na manhã de hoje, eu finalmente vi o quinto dos cinco longas-metragens que o cineasta Alejandro Amenábar dirigiu. Apesar de eu ser fã de pelo menos três dos quatro filmes anteriores do diretor, protelava o momento em que veria “Ágora” (2009), pois cria que a ambientação épica do filme ia de encontro ao vigor discursivo de seus filmes prévios, todos marcados por um embate subjetivo fundamental: “até que ponto eu suporto a perseverança de uma crença que me causa problemas sociais?”. Para minha surpresa e contentamento, o novo filme mantém-se firme a esta questão. É ótimo, me fez lacrimejar e pensar no quão difícil e solenemente comum está se tornando a intolerância hoje em dia, não somente religiosa, ao contrário do que pensam os detratores imediatistas do filme. Fiquei tão impressionado que precisei recapitular o que achei de cada um dos filmes amenabarianos:

- “Morte Ao Vivo” (1996): vi somente uma vez, dublado na TV aberta, faz tempo. Por isso, talvez eu não disponha de muita firmeza argumentativa para criticá-lo, não obstante eu manter que não gostei muito da interpretação assustada da adulta Ana Torrent e fiquei positivamente impressionado com o charme ‘rocker’ do galã espanhol Eduardo Noriega e com o fabuloso uso contrastante da trilha sonora do filme, composta por seu próprio diretor e roteirista. Não é lá muito original em seu enredo sobre ‘snuff movies’ no interior de uma universidade, mas é tecnicamente merecedor de atenção cuidadosa. Preciso revê-lo, portanto!;

- “Preso na Escuridão/ Abra os Olhos” (1997): também o vi na TV aberta, dublado, mas já tive o prazer de revê-lo em som original e atesto a sua genialidade, comprovo que meus amigos de universidade tinham razão em ficarem pasmos diante de seu roteiro repleto de reviravoltas, imersos no clima de pesadelo que jamais é demovido, mesmo quando os créditos finais sobem e uma explicação pretensamente plausível nos é apresentada pelos personagens intra-fílmicos. Para além de todo o seu estupor de ficção científica, é um filme sobre ciúmes, sobre amores obsessivos, sobre beleza destruída, sobre vontade de viver. Mexeu muito comigo, portanto;

- “Os Outros” (2001): produção mais ambiciosa e internacionalizada do diretor, mas, ainda assim, genial! Vi-o através da dublagem da TV aberta também, mas nem mesmo assim deixei de me espantar com o brilhantismo da revelação final, com a supremacia de seu roteiro invertido de terror, com o clima de suspense perpétuo que atravessa toda a narrativa. Não posso nem me demorar falando sobre ele, a fim de não estragar a surpresa de quem ainda não o tenha visto, mas... É genial, creiam-me!;

- “Mar Adentro” (2004): este eu vi através de um canal fechado, mas, ainda assim, tive que me contentar em vê-lo dublado. Hoje eu possuo o DVD, mas um percurso interessante me acompanhou até que eu o comprasse. Explico: tive a oportunidade de vê-lo no cinema, visto que ele estreou, por um curto espaço de tempo, em minha cidade. Um grande amigo foi na frente e disse que eu iria detestar o filme, que é uma perda de tempo, que era uma ofensa o elã demonstrado pelo cineasta em suas obras antecedentes. Acreditei, mesmo suspeitando do contrário, neste julgamento e o vi por pura teimosia, anos depois. Tapa na minha cara! O filme é intenso, pungente, feroz e ainda mais carregado de elã vital que os filmes anteriores, mesmo sendo baseado na luta de um indivíduo para morrer. Transmiti meu julgamento escandalizado para meu amigo e ele modificou completamente a sua impressão ao revê-lo: o filme é genial, nietzscheano, perverso, realista, onírico, sensual, esplêndido! Recomendo-o de pé;

E, por fim: - “Ágora” (2009): tendo como primeira imagem o círculo terreno, este é um filme sobre círculos, sobre beleza cadente e desejo de perfeição. Oficialmente, sua protagonista é a filósofa egípcia Hypatia (maravilhosamente interpretada por Rachel Weisz), mas vários outros círculos interpretativos se movimentam ao seu redor, numa trama que promove uma mixórdia pré-existente entre intolerância religiosa e incompreensão afetiva. É um filme épico, mas centrado nos anseios subjetivos de protagonistas, que só desejam acreditar no que acreditam e serem respeitados neste direito básico. É um filme sobre um escravo que se apaixona por sua mentora pensamental, mas é incapaz de salvá-la. É um filme sobre como a burrice em nome de um deus pode destruir culturas. É um filme sobre metodologia idealizada versus aplicabilidade social. É um filme maravilhoso e, como tal, deve ser melhor conhecido.

Dentre as diversas cenas positivamente inspiradas deste filme, destaco um momento derradeiro, em que a protagonista conversa com um antigo discípulo, agora convertido no prefeito oportunista da cidade de Alexandria, onde vive. Ele pede que ela abandone os seus princípios científicos e se converta ao cristianismo, dizendo que somente assim ele poderá salvá-la. Ela queda-se firme em seus princípios, contemplando de forma crítica a imagem de Rômulo e Remo, fundadores mitológicos de Roma, mamando nas tetas de uma loba. Foi o suficiente para que eu percebesse o quão inteligente o homossexual e introspectivo Alejandro Amenábar o é! Tornei-me fã confesso dele neste exato momento. Que venha o próximo filme. Eu confio!

Wesley PC>

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