terça-feira, 7 de setembro de 2010

O QUE W. SOMERSET MAUGHAM TERIA A DIZER SOBRE MIM?

Parece um exercício tolo de lamentação literária imaginar isso, mas, depois de finalmente ter enfrentado as 69 páginas de uma versão reduzida do romance “O Fio da Navalha” (1944), deste grande novelista melancólico norte-americano, eu devo fazê-lo: o que teria ele a dizer sobre mim?

Li o romance em versão reduzida sem saber que o fazia. A edição que possuo é em inglês e faz parte de uma coleção destinada ao ensino deste idioma para leitores intermediários. Possuo-a desde que tinha 13 anos de idade, mas nunca havia me aventurado a lê-la por completo. O fiz hoje e arrependo-me um pouco agora, ao saber que consumi uma versão incompleta, alterada, deformada do romance. Porém, creio que o fulcro da estória permanece o mesmo: o autor questionando os caminhos que seus amigos tomaram no que tange à busca da felicidade.

Basicamente, seis personagens meneiam a trama: o narrador, sempre à parte, sempre impessoal, mesmo quando exagera nos elogios aos seus convivas; o sedutor Larry, que se converte numa espécie voluntária de guru, depois de uma viagem à Índia; o rico e esnobe Elliott, que sofre bastante quando percebe que sua velhice é hostil a seus amigos fúteis; sua irmã Isabel, que deixa de casar com Larry em razão de sua inferioridade social; Gray, esposo de Isabel, inicialmente rico, mas que adoece e empobrece em razão da queda vertiginosas da Bolsa de Valores nova-iorquina no fatídico ano de 1929; e, finalmente, Sophie, amargurada mulher que se deixa viciar em álcool e ópio depois que seu filho e seu marido morrem num acidente de carro, apaixonando-se posteriormente por Larry e causando fúria e inveja na ressentida Isabel. Basicamente isso!

Os meandros romanescos e burgueses da trama nem sempre me convenceram dramaticamente, mas atrever-me-ei a ler a versão integral do romance, caso eu o encontre por aí... Não me identifiquei com a trama, mas fiquei pensando em mim mesmo durante a leitura, nos caminhos idiossincráticos através dos quais eu trilho a minha vida. Lembrei dos dias felizes que vivi em Belo Horizonte e das pessoas carinhosas que conheci lá, a exemplo deste agradável baiano que me abraça na foto, Heyder Moura, carnívoro e fumante, que soçobrou em suas tentativas de me incutir estes dois vícios. Mas foi exultante naquilo que realmente importa: o feitiço da amizade sincera.

Apesar de conversar com ele algumas vezes depois que nos conhecemos, através da Internet, nunca mais encontrei Heyder novamente, da mesma forma que o narrador de “O Fio da Navalha” passava longos anos sem rever seus amigos, co-personagens de sua narrativa tão individualizada e repleta de julgamentos morais. O que teria reservado o futuro para nós? Estará ele feliz agora? Tomara que sim.

Folheando as páginas de minha edição anglofílica de “The Razor’s Edge”, encontrei alguns acrósticos envolvendo as iniciais dos nomes dos garotos por quem eu me interessei em 1993 e 1994... e em 1996... e nunca mais eu soube deles... e quase eu nem lembrava mais... E, quando eu passava pela sala, meu irmão zapeava na TV e parou por alguns instantes diante de uma cena do belo e nostálgico filme adolescente “Show de Vizinha” (2004, de Luke Greenfield), no justo momento em que a canção “This Year’s Love”, do David Gray, ecoava na tela, canção esta que eu repeti pelo menos três vezes quando voltava para casa na segunda-feira e que não sabia que fazia parte da trilha sonora de nenhum filme... Coincidência...

Por pura coincidência, David Gray foi um músico que eu conheci bem recentemente, folheando a página 825 do guia “1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer”, que descrevia o disco “White Ladder” (1999) como sendo uma atualização do tipo de composição romântica engendrada por Bob Dylan. Achei o disco mais parecido com o estilo de James Blunt, o que não é necessariamente um demérito, visto que possuo pelo menos dois discos dele, gosto de sua voz fanha e apaixonada. E é com uma voz fanha e apaixonada que eu cantarolo “This Year’s Love”:

“This year's love had better last
Heaven knows it's high time
I've been waiting on my own too long
when you hold me like you do
It feels so right
I start to forget
How my heart gets torn
When that hurt gets thrown
Feeling like you can't go on”


Será que “o amor deste ano” vai durar?

Wesley PC>

2 comentários:

tatiana hora disse...

foto bonita!
estou ansiosa para conhecer Belo Horizonte, todo mundo só fala bem dessa cidade e das pessoas de lá...

Antonio Heras disse...

preciosa foto, wes. y siempre he adorado la canción de david gray, this year´s love

:)

vives en belo horizonte? es extraño. una amiga mía española vive ahora allí y quizá vaya a visitarla en noviembre.

un saludo, pues!