quarta-feira, 14 de outubro de 2009

“THE QUEEREST OF THE QUEER”

E quem diria que, um dia, “Garbage” (1995), álbum de estréia do Garbage, tornar-se-ia mais do que o álbum maneiro que é para se tornar um índice pré-passional relacionado à valorização de quem sabe morrer na fogueira em defesa de seus princípios. Mas vamos devagar. Falemos do álbum: alguém me contou o boato de que a vocalista Shirley Manson (maravilhosa) fora descoberta quando propusera sexo oral a um dos integrantes da banda Foo Fighters. Creio que seja um exagero anedótico, mas a estorieta bem que poderia ser verdade: a mulher exala sexo e magnetismo por cada um de seus poros estelares!

O disco começa com a inspirada “Supervixen”, que contém um tipo de autoconfiança que nem sempre se coaduna com a minha submissão habitual, mas, na faixa 02, “Queer”, a entrega identificatória é total: amo aquele refrão, canto e me encanto sempre e sempre:

“O mais bizarro dos bizarros (ou ‘o mais viado dos viados’)
O mais estranho dos estranhos
O mais frio dos frios
O mais manco dos mancos
O mais mudo dos idiotas
Eu odeio te ver aqui
Tu chocas por detrás do sorriso
És uma farsa por detrás do medo”


Traduzi o refrão só por desencargo de consciência mesmo. A graça da canção está na magnificência com que os versos aliterados são rimados, contrastados, lançados à nossa auto-interrogação. Em seguida, o hino “Only Happy When it Rains”, obra-prima um tanto mais triste, cujos versos engrandecem-nos pela sinceridade e falta de rodeios na proposta temática (“Pour your misery down on me”). Tal primor pelo direcionamento preciso da mensagem pode também ser encontrado nas canções subseqüentes (“As Heaven is Wide”, “Not My Idea”, “A Stroke of Luck” e “Vow”), mas atingem um novo paroxismo em “Stupid Girl”, cujo videoclipe forçadamente tosco chama a atenção pela adequação à confissão contida na letra:

“Don't believe in fear
Don't believe in faith
Don't believe in anything
That you can't break”

Sobre as duas canções imediatamente posteriores (“Dog New Tricks” e “My Lover’s Box”), eu não posso falar muito, visto que a sedução advinda das canções anteriores me mantém em estágio elevado de estupor até a dançante “Fix Me Now” e aquela que talvez seja a canção que mais mexe comigo, num tom obviamente melancólico, encerrando o CD com um toque grandioso de delicadeza: “Milk”.

“Sou fraco, mas também sou forte
E posso usar minhas lágrimas para te trazer de volta”

Sim, querida Shirley Manson, também sou destes que esperam por alguém...


Wesley PC>

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