sexta-feira, 1 de abril de 2011

“NUNCA NOS DIZEM ISSO, MAS, MESMO DEPOIS QUE NOS CASAMOS, CONTINUAMOS A NOS MASTURBAR. NÃO É COISA DE ADOLESCENTES”...

Esta é mais ou menos uma das conclusões a que os personagens de Jason Sudeikis e Owen Wilson chegam no filme que decidi ver no cinema na tarde de ontem. Tratava-se de “Passe Livre” (2011), de longe, o menos interessante filme realizado pelos inteligentes e maritais irmãos Peter & Bobby Farrelly. Acostumados a serem tachados de escatológicos por causa da linha humorística exagerada que reinauguraram com filmes como “Débi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros” (1994), “Kingpin – Estes Loucos Reis do Boliche” (1996) e “Osmose Jones – Uma Aventura Radical Pelo Corpo Humano” (2001), eles são reconhecidos mesmo pelas odes românticas que perpetraram nos meandros de bons filmes como “Quem Vai Ficar com Mary?” (1998), “Eu, Eu Mesmo e Irene” (2000), “O Amor é Cego” (2001), “Ligado em Você” (2003), o desnorteado “Amor em Jogo” (2005) e, por fim, o mal-sucedido nas bilheterias “Antes Só do que Mal Casado” (2007). Tendo visto, portanto, os nove longas-metragens que eles realizaram antes deste filme mais recente, eu já devia saber o que ia encontrar em “Passe Livre”, certo? Certo, mas... E daí?

A trama do filme antevia que o elogio à forma mais tradicional de casamento heterossexual seria defendido até o extremo: dois amigos casados são flagrados por suas esposas quando conversavam sobre os desejos sexuais eventuais que sentem por outras mulheres e, orientadas por uma terapeuta mais velha, elas resolvem permitir que eles tenham uma semana inteira de completa liberdade relacional, podendo fazer o que quiserem com quem quer que seja, definindo a expressão contida no título do filme. Nos sete dias que compõem este passe livre, eles ingerem bolinhos de maconha, flertam com os mais diferentes tipos de mulheres e relembram os fatos marcantes de suas juventudes (em que a conclusão que intitula esta postagem é cabal), mas previsivelmente constatam que as mulheres com quem se casaram são as mulheres de suas vidas, aquelas a quem realmente amam de verdade. Não que esta conclusão previsível seja ruim – muito pelo contrário: quem me conhece, sabe que acredito piamente nisto! – mas fiquei chateado por causa do abandono de algumas marcas registradas dos diretores, que entrariam em conflito com o tom mais brando de comédia romântica que ele efetiva aqui: onde estão os deficientes a que eles nos acostumaram a dignificar através de uma esquisita forma de humor negro? Onde?! Do jeito que ficou, o filme até parece uma imitação do estilo superficialmente contestatório de Todd Phillips!

Explicando de outra forma: ao contrário dos filmes anteriormente citados dos diretores, este filme mais recente é quase “censura livre” no que diz respeito ao conteúdo das piadas e imagens que são destiladas no filme. Exceto pela imagem que justamente acompanha esta postagem, uma imagem que, com certeza, será cortada do filme quando ele estiver sendo exibido pelas emissoras de TV (risos): depois que adormece numa banheira de hidromassagem, o personagem de Owen Wilson pede socorro por estar com o corpo dormente. Dois homens nus recém-saídos de uma sauna ajudam-no, sendo um negro bem-dotado e um irlandês com o pênis pequeno. Durante o resgate, o protagonista lamenta que os dois homens não estivessem na posição contrária à que estavam e, quando indagado o porquê, uma inesperada imagem fálica ocupa a tela. Impossível não rir, mas, eu me pergunto: será que uma imagem tão “chula” como esta será exibida na TV? Detalhe: nem de longe, o filme merece ser respaldado por uma classificação etária superior a 14 anos de idade, visto que ele apóia a ideologia matrimonial dominante. Os censores hodiernos terão problemas ao direcionarem este filme (risos)...

Toda esta introdução, porém, é apenas um pretexto para que eu explane em que aspectos este filme me incomodou tanto: acima de tudo, a trama defende a necessidade de conformismo social na maturação do indivíduo, a idéia de as concessões amorosas não são somente importantes, como essenciais para o bem-estar de um cidadão-modelo. Nesse âmbito, o tema da masturbação, conforme enfocado, me incomodou: em mais de uma seqüência, as indisposições das esposas dos protagonistas levam-nos a consolarem-se sexualmente através do “prazer solitário”. Enquanto um deles toca-se “no banheiro, como todo mundo faz”, o outro costuma masturbar-se no interior de seu carro, estacionado em frente de sua casa, à noite, ao som de canções românticas que lhe apeteciam na adolescência. Numa determinada ocasião, ele é flagrado por dois policiais, que o indiciam sob a suspeita de ele ser um tarado, numa cena tragicômica que desencadeia o passe livre por parte da esposa dele. Mas, em mim, a cena teve outro efeito: por mais que eu estivesse rindo por fora, por dentro, algo me incomodava, quiçá algo que tinha a ver com o fato de minha virgindade ter sido veementemente questionada por um amigo, quando eu adentrei na universidade ontem. Apesar de eu ter defendido esta virgindade da mesma forma que eu defenderia o fato de ter olhos castanhos ou cabelos curtos, a desnecessidade deste colóquio defensivo me incomodou: será que, quando amadurecemos, fica mais difícil constatar que “o essencial é invisível aos olhos”, que aquilo que realmente é importante em nossas vidas, talvez já esteja lá, onde deveria estar? Será? Mesmo sendo um filme inferior dos diretores, recomendo-o mesmo assim...

Wesley PC>

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