domingo, 27 de março de 2011

PORQUE EU SOU MESMO APAIXONADO E, COMO TAL, “AMO A DEUS, MINHA MÃE, OS SERES HUMANOS”...

Direto ao ponto: abusar das “licenças poéticas” na reconstituição de um passado traumático é uma forma de libertar-se dos arrependimentos e frustrações? Se depender da metalinguagem reinventada pelos cineastas iranianos, a resposta é um “não” dúbio!

Acabo de ver o magnífico “Um Instante de Inocência” (1996, de Mohsen Makhmalbaf) e ainda estou cá a me recuperar do impacto do filme, cujo enredo demasiado simples ou demasiado complexo funde realidade e ficção de uma forma tão indissociável quanto indistinguível. O pressuposto parece banal: um ex-policial procura o cineasta que, 20 anos antes, o esfaqueara quando militava contra o regime político então em voga. “Enquanto houver árvores, há vida” era o jargão que o jovem que queria salvar a humanidade intentava bradar antes de ser obrigado a utilizar de violência para pôr em prática a sua causa. A prima por quem era apaixonado à época estava ao seu lado na empreitada, de maneira que ela também consegue atrair a atenção romântica do policial, que, no futuro, permite que o cineasta reconte esta estória, mas os pontos de vista de ambos divergem: um não quer ser o vilão. O outro tem problemas para treinar os atores. O jovem que interpreta o jovem cineasta chora quando descobre que terá que fingir o jovem que interpreta o jovem policial. A jovem que interpreta a jovem prima do diretor, hoje casada com outro homem e sem querer relembrar estes eventos de sua juventude, sublinha as mesmas frases em livros que a personagem que interpreta. Tudo se confunde... Tudo se explica. Tudo pulsa: “enquanto houver árvores, há vida”!

Wesley PC>

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