segunda-feira, 2 de agosto de 2010

ALGUMAS OBSERVAÇÕES INICIAIS SOBRE O CORPO NU DE JOSÉ LUÍS MANZANO, OPS, SOBRE A OBRA CINEMATOGRÁFICA OITENTISTA DE ELOY DE LA IGLESIA:

Ops! Conforme venho dizendo, descobrir a carreira cinematográfica singular de Eloy de la Iglesia foi-me algo deveras balsâmico, em mais de um sentido. Primeiro, porque este cineasta é o líder de algo que ficou mundialmente conhecido como “cinema quinqui”, de origem espanhola, destinado a mostrar por dentro como se engendra a delinqüência juvenil em sua faceta mais bélico-classista; segundo, porque androfílico que se preze deve conhecer José Luís Manzano, morto por overdose de drogas antes de completar 30 anos de idade, ator que viveu na tela aquilo que vivia na vida real e que, depois disso, viveu na vida real o que problematizara na tela. Morreu da mesma forma que alguns de seus personagens, portanto.

Conforme explicitei no outro texto, de sábado para domingo vi três filmes seguidos do diretor Eloy de la Iglesia: “Navajeros” (1980), “Colegas” (1982) e “El Pico” (1983), os três protagonizados pelo mesmo ator-fetiche, o companheiro pessoal de Eloy de la Iglesia, adotado por ele como um filho com quem se pode fazer sexo, que trazia na vida real as mesmas marcas de seus personagens: a alfabetização precária, a sexualidade titubeante e a sujeição ao vício do ‘caballo’, droga devastadora que engendrou na Espanha em relação à heroína o mesmo que o ‘crack’ faz no Brasil em relação à cocaína. Mas, na moral, como o José Luís Manzano era bonito e carismático! Tal qual faziam os jornalistas de “Navajeros”, é difícil não ceder ao seu carisma de meliante.

Cabem aqui, portanto, algumas observações sobre estes filmes, em que era muito mais interessante o modo de narrar do que necessariamente as estórias reais filmadas, suficiente previsíveis enquanto tragédias juvenis anunciadas. No primeiro filme, “Navajeros”, acompanhamos a saga verídica de El Jaro, um bandido adolescente famoso na antiga Madri, com o qual o ator que o interpreta guardava imensas semelhanças físicas e biográficas, o que facilitou e muito o despreparo actancial de José Luís Manzano antes de abraçar o papel, que desempenha com elogiosa autenticidade. Minhas cenas favoritas, obviamente, envolvem a prostituta mexicana e mais velha com quem ele se envolve, que, num momento decisivo, atreve-se a dizer que ele faz com que ela se sinta tão mais jovem que a cada vez que eles fazem sexo, até parece que é a sua primeira vez. Vi-me nela. Apaixonei-me por ele e por ela ao mesmo tempo!

No segundo filme, “Colegas”, a cena que mais me impressionou foi a conversa dos três irmãos antes de dormir, sendo que dois deles masturbavam-se ostensivamente em suas respectivas camas, limpando as suas ejaculações no mesmo pedaço encharcado de pano. A trama, porém, era bem mais singela que o filme anterior: abordava o relacionamento de amizade sincera entre dois amigos, sendo que um deles engravida a irmã do outro e tentam arranjar dinheiro para financiar um aborto, o que desemboca em situações inesperadas para eles, trágicas no sentido mais amplo do termo.

Por fim, “El Pico” mostra uma nova vertente fílmica do diretor, mais contundente, mais firme, mais dicotômica em seus papéis sociais, ainda que o roteiro evite julgar qualquer um dos personagens, por mais criminosamente que estes se comportem. Assim sendo, adolescentes entediados e viciados, traficantes de drogas que embebem heroínas em chupetas de bebês, policiais anti-democráticos que preocupam-se sinceramente com os filhos e deputados bascos e esquerdistas têm iguais oportunidades de pronunciamento no filme, que não esconde a sua tomada de partido em relação à necessidade de proteção da juventude inassistida. Digo mais: há uma cena emblemática aqui, quando o protagonista acorda durante uma crise de abstinência e escuta os gritos de sua mãe, viciada em um medicamento à base de morfina. Depois que injeta a droga nela (e rouba algumas ampolas para uso pessoal), ele, que acabara de completar 18 anos, ouve de sua mãe dopada uma admoestação cuidadosa em relação a como ele deve se comportar nas eleições vindouras. Uma cena quase cômica se não fosse tão emblemática!

Com estas três pequenas observações sobre os filmes, atesto-vos que a obra de Eloy de la Iglesia é realmente absorvente e que ajuda muito na apreensão qualitativa dos filmes o fato de que o namorado do diretor esteja constantemente nu em seus filmes, conforme percebemos nesta graciosa cena de “Colegas”, quando dois irmãos inocentemente banham-se ao mesmo tempo. Recomendo todos estes filmes, de coração, cérebro e genitália abertos!

Wesley PC>

Nenhum comentário: