sexta-feira, 6 de agosto de 2010

NASCIDO EM 30 DE DEZEMBRO DE 1963, MORTO EM 20 DE FEVEREIRO DE 1992. E ENQUANTO ISSO?

A resposta à pergunta acima foi proferida pelo ator espanhol José Luís Manzano, protagonista de cinco filmes sobre delinqüência juvenil dirigidos por seu padrasto erótico Eloy de la Iglesia. Por ser viciado em heroína, porém, ele morreu como conseqüência de seu vício. Overdose foi o diagnóstico. Qual o detalhe neste diagnóstico? Na maioria dos filmes por ele protagonizados, o tema é justamente “a escravidão das drogas”. Assisti ontem à noite a “El Pico 2” (1984), continuação do maior êxito de público do diretor e, confesso, irritei-me um pouco com o tom moral da película tendenciosamente hipócrita, visto que é sabido que diretor e elenco consumiam largas doses de ‘caballo’ nos intervalos da filmagem. Conclusão: nada mais trágico do que ver uma vida jogada fora, sabendo que está sendo jogada fora, tentando justamente não jogá-la mais fora, sendo, portanto, impossível julgar qualquer um por causa disso. Pós-conclusão: o filme me deixou em crise, com dor, sofrendo, mesmo que eu não tenha gostado tanto dele quanto dos outros dirigidos pelo mesmo Eloy de la Iglesia e protagonizados pelo mesmo José Luís Manzano... E, enquanto eu escrevia isso, o estagiário novo de meu setor limpava o seu relógio com a parte de baixo de sua camiseta e deixava-me ver, inconsciente, a bela protuberância peluda e adiposa de seu abdome. Consolou os meus sentidos, mas não a minha consciência: é um mundo que desmorona a passos largos e não há álcool nem carne que nos embriague o suficiente para deixarmos de perceber isso, como perceberiam os futuros personagens de “Los Novios Búlgaros” (2003), último e, até então, melhor filme (para mim) de Eloy de la Iglesia, morto em 2006 em decorrência de um câncer renal.

Wesley PC>

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