quinta-feira, 5 de agosto de 2010

“TUDO É CAPITALISMO HOJE EM DIA... O SOCIALISMO, UM HORROR!” (...) “O MUNDO ESTÁ DESMORONANDO, E NÃO HÁ ÁLCOOL QUE DÊ UM JEITO NISSO!”

Na manhã de hoje, manhã de folga, vi mais um filme do espanhol Eloy de la Iglesia: “Los Novios Búlgaros” (2003). Três anos depois, seu diretor estaria morto. Depois de interromper sua prolífica carreira por cerca de 15 anos, a fim de libertar-se do vício em heroína, depois de sobreviver às várias pestes ‘gay’ que assolaram as décadas de 1980 e 1990, Eloy de la Iglesia estava morto. Antes disso, porém, legou aquela que talvez seja a sua melhor obra. Legou-me pessoalmente mais um petardo potencial sobre o que me espera num futuro próximo, sobre o que já enxergo neste presente derruído que tanto me resguarda...

Um breve resumo do filme talvez explique o que estou a sentir agora: Fernando Guillén Cuervo interpreta Daniel, um empresário homossexual que se divide entre a diplomacia de seu emprego e as saunas e conversas fúteis com seus amigos ricos e afetados. Pagar a rapazes mais jovens para que se deitassem com eles não era nenhum problema: “podemos muito bem pagar por alguns centímetros de rola, mas não por alguns minutos de amor” era o lema deles... Bem que deveria se tornar o meu também!

Num destes pagamentos, Daniel conhece Kyril (Dritan Biba), um imigrante búlgaro que não escondia a sua vocação criminosa sobrevivencial. Ainda assim, encantado que estava pela autenticidade estrangeira do sujeito e pelos maneirismos gestuais do mesmo, Daniel se entrega por completo a uma relação que seria bem mais onerosa para ele do que para qualquer outra pessoa: “eu tive um namorado búlgaro. Ele tinha uma namorada búlgara. Vivíamos como se fosse uma família: eu gastava tudo o que tinha por eles. E eles não precisavam gastar nada por mim”. Eis a narração que abre o filme...

À medida que o filme avança, o oportunismo de Kyril se aperfeiçoa, mas, por mais que Daniel enfie-se em problemas políticos e legislativos cada vez mais graves, o filme não o julga, o próprio Daniel não o julga. É como se padecer e gastar fossem componentes indispensáveis deste tipo de amor concessivo e unilateral. É o tipo de amor que mais me alimenta, aliás. Conclusão inicial: a identificação foi plena! Em dado momento do filme, por exemplo, aconteceu algo que já tive a oportunidade de vivenciar: deitados na mesma cama depois da foda à base de espuma de sabão que mostro em foto, Daniel beija Kyril no rosto e diz que gosta tanto dele que não hesitaria em dar a sua vida pelo búlgaro, ao que este último responde: “eu também daria a tua vida por mim”. Glupt! Quem condenaria qualquer um dos personagens por qualquer coisa?

Quanto mais a trama seguia em frente e adicionava novos elementos periculosos (uma noiva búlgara que não era videogênica, tráfico de urânio, mais e mais dinheiro sendo requisitado), os dilemas amorosos do personagem crescem ao âmbito político mais geral, conforme se percebem nos dois pronunciamentos que somei no título desta postagem. Num dado momento da película, por exemplo, Daniel viaja até a Bulgária e passa a ser assaltado por “memórias de um tempo que nunca viveu”. E eu entendia plenamente do que ele falava... Um filme maravilhoso, que recomendo como bálsamo pessimista e, ainda assim, essencial, a qualquer um que passe pelo que eu passo... Genial!

E o jargão mais repetido do filme proveio de um poema de Edgar Allan Poe: "o horror está na alma". Eu que não discordo agora!

Wesley PC>

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