terça-feira, 27 de outubro de 2009

LAIO SEDUTOR

Uma vez Rafael Barba me perguntou sobre o porquê do sucesso do "Coverama" enquanto a música autoral dos atuais compositores de Sergipe não ganha muito destaque na cena. Eu respondi que isso seria devido à baixa auto-estima que faz muita gente crer que não teve, não tem e não terá nada bom produzido em nossa terrinha. Há também o culto aos mitos, fazendo com que pessoas achem mais interessante ver músicos imitando insuperáveis deuses da música do que ver estes mesmos músicos locais nos apresentarem suas próprias composições.

Hoje penso que outro fator pode ser a supervalorização do passado que pôs um véu sobre o presente. A nossa geração tem um maior acesso ao passado do mundo da música do que gerações anteriores, a assídua utilização da internet facilita isso, algo muito bom. Assim como eu, várias pessoas ficam encantadas ao pescar e consumir discos da Tropicália, Novos Baianos, Chico Buarque, Rock britânico dos anos 60 e outras coisas. Entretanto, parece que a incitação à criação e ao novo foi vencida pela nostalgia. Tudo que precisamos ouvir está no passado. Só nos resta tentar viver um tempo que já passou (será?).

Eu me pergunto: o que fazer nesse momento em que Laio parece mais sedutor que Édipo?


Leno de Andrade

9 comentários:

Pseudokane3 disse...

Para além de o texto estar sedutor, li-o como se fosse uma daquelas pegadinhas de Física, em que nos é mostrada a aceleração das gotas d´água e pede que se calcule a temperatura em graus Kelvin... Em outras palavras, os elementos apresentados confundem mais do que explicam!

Vamos ao ponto: o dilema apresentado (criação X nostalgia) me toca profunda e pessoalmente, porém usar o "sucesso" do Coverama como ponto de partida é, no mínimo, falacioso: o que se destaca ali está longe de saudosismo, apelo mítico ou observação das capacidades instrumentais alheia: é nada mais, nada menos que PUBLICIDADE (infelizmente?) bem-sucedida. Eu nunca fui, por exemplo (risos), mas soube que tem dinheiro na jogada, dinheiro, "o vil metal" do Belchior...

Quanto ao lance da "prisão" em sons do passado, venhamos e convenhamos, tio Charlisson: nunca cometerei a gafe "novista" de babar por um compositor alegadamente hiper-criativo que se gaba de não plagiar ou citar ou reverenciar arcabouços (conheço gente assim: que evita ver filmes clássicos para não ser acusada de imitadora)... Acho que o debate rende sim, que há um problema mitológico sim, mas os elementos que devem ser levados em consideração são bem outros, em outros mesmo... E tu enquanto beatlemaníaco sabe bem, na pele, quais são...

Que outros se manifestem!

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Pseudokane3 disse...

Ou talvez, tal qual um novo Édipo mal-fodido, eu tenha apenas "cegado" os meus ouvidos (risos) -

E não é de hoje que eu e Maurício nos digladiamos mutuamente em busca do sentido oculto de "Como Nossos Pais" (risos)

"o novo sempre vem"? OK, então ele não precisa de mim para isso (risos)

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Unknown disse...

Sim, mas o dinheiro que está em jogo vai pros produtores e músicos vencedores, até aí tudo bem, nada contra os produtores e os músicos, mas o lance é como o público prefere gastar dinheiro nesse evento do que apreciar bandas locais autorais.

Outra coisa, eu nao quero a negação do passado. O fato de eu ser um beatlemaníaco não me dá vontade de passar a vida toda tocando músicas dos Beatles, ao contrário, eles me dão inspiração para compor. O fato de John Lennon ter idolatrado Chuck Berry não o impediu de criar (e como criou hein!).

Concordo com você sobre o "plagio", é como Tom Zé disse: o plagiocombinador. Ninguém começa do nada, mas não se pode dar tudo por encerrado. Jupiter Maçã e Mopho fazem um som retrô, mas se compararmos com cuidado seus discos com discos dos anos 60 perceberemos diferenças. O mais difícil é não mudar.

Unknown disse...

ah! Os mesmos produtores do Coverama já fizeram um evento semelhante chamado Sonorama, a diferença que era uma disputa de músicas das próprias bandas. O dinheiro também estava em jogo. Mas por que será que o evento foi encerrado por falta de público?

Pseudokane3 disse...

palavra-chave: PUBLICIDADE!

E tu és um compositor com bojo. Outros que vendem a pulso o discurso do "novo pelo novo" (sic) não o são!

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Unknown disse...

Sem dúvida a publicidade é importante nesse caso, mas não explica tudo.

Antes desse texto sair da página principal quero deixar claro não tô dizendo que o momento presente esteja uma maravilha, só quero dizer que a solução não é a fuga para o passado, mas a utilização dele como exemplo bom ou ruim é válida. Acho que isso resume a minha intenção de forma mais clara.

Valeu Wesley, se tiver mais algo dizer pode meter bronca rsrs

Annita! disse...

Incrivelmente qdo li este texto lembrei do Belchior e de conversas q tive acerca de cinco anos atras, logo qdo entrei no curso de História. Sempre me assustou a construção do passado sob a égide de Belchior.Sempre pensei, e penso em escrever algo por aí...mas, nao fiz. ainda. uma coisa é certa, o coverama, se fosse apenas um evento, ou melhor, o evento em si, nao vejo como resgate mneumático. acho q é a velha nostalgia pop.

Annita! disse...

AH! Tem mais uma coisa, ninguém prestigia aquilo qeu "nao gosta". Pois, com publicidade é bem mais fácil gostar. Eu q tenho varios amigos q tocam coisas q eu nao gosto me vejo sempre criticada qdo mostro a alguem, sob a alegação de tais pessoas sao boas naquilo q elas fazem. Leno! A questão é: tem coisas q vendem, tem coisas q nao vendem. A nostalgia pop de pseudo-rockeiros,e vintages vendem! Olha as baladinhas, os rock in roll malhação...todo mundo abre a boca p dizer q teve os "mesmos" referenciais musicais...mas, nao fazem naaaada daquilo. Pq é isso o devir musical...a susbstancia publicitária da música. O que importa, é o q se vende. Olha o Naurêa, vende legal p universitário.rs

Gomorra disse...

A frase final de Annita é bombasticamente reveladora!

Mas é assim mesmo, tio querido...A gente evolui na discussão dia-a-dia. Fique certo que esta suposta dicotomia é algo que me atinge diariamente. Eu e Maurição já tivemos altas conversas sobre isso em nossos bons dias... E, como sempre, Belchior é que vinha na frente (risos)

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