segunda-feira, 26 de outubro de 2009

“ESTÁS A VER, WESLEY? A BOEMIA ENSINA TAMBÉM!”

Assim me disse um alegado boêmio ao final de um clássico filme do Michael Cacoyannis. Não que eu discorde. O “também” ao final da oração ajuda a torná-la suficientemente ampla para que o que eu quiser projetar sobre ela seja efetivo. Na manhã de hoje, vendo um filme menor do gênio dos diálogos cruzados Robert Altman [“Jogando com a Sorte” (1974)], fiquei pensando no sentido desta frase. Comparando-a com fatos reais e com os filmes do John Cassavetes – cuja semelhança é óbvia, dada a preocupação quase etimológica com que este cineasta se dedicava à boemia – concordo mais uma vez, ratificando o excelente uso do advérbio. No filme em pauta, Robert Altman continua a investir em seu amplo espectro de personagens efêmeros, que correspondem a participantes de um plano crítico sobre os costumes típicos dos norte-americanos, mas pode se detectar um diferença (cassavetesiana) de enfoque quando o roteiro escolhe como personagens centrais – bem mais centrais que o habitual – dois apostadores contumazes, que se tornam amigos depois que passam creme de barbear nas luxações um do outro quando são espancados durante um assalto. Viajam juntos, interagem com os tipos mais esquisitos e paradoxalmente corriqueiros possíveis (ricos entediados vestidos de mulher, prostitutas nuas num bar, trocentas mulheres chamadas Barbara, etc.) e chegam a ganhar US$ 82.000, 00 em jogos. Porém, o tédio sempre volta, aquela sensação de que falta alguma coisa, por mais que se consiga e se divirta. E este é o traço-chave da boemia com o qual eu não me filio. Talvez porque seja conformista. Talvez porque não seja boêmio o suficiente. Talvez porque eu prefira assistir...

Wesley PC>

Nenhum comentário: