sábado, 31 de outubro de 2009

ALGUMAS COISAS DEFINITIVAMENTE NÃO TÊM COMO ACABAR BEM!

Conforme anunciado antes, acordei muito tonto na manhã de hoje. Tão tonto, mas tão tonto que cheguei a crer que o problema pudesse advir de uma saturação informativa. Decisão profilática imediata: não ver filmes até o meio-dia. Decidi arrumar alguns papéis antigos, ler alguns de meus projetos fracassados do passado recente, repassar prioridades, etc.. Futucando alguns livros que estavam na estante, passei em revista um pequeno texto do comunicólogo Teixeira Coelho sobre o conceito de utopia. No texto em pauta, ele demonstrava que a necessidade de trabalhar (em nível empregatício) é um dos maiores – se não o maior – motivos de descontentamento individual entre as pessoas que ainda estão vivas. Não era para discordar. Concordei.

Creio que deva ser muito comum que rapazes de 28 anos vivenciem este tipo de descontentamento/questionamento quando atrelados a um forte mal-estar cefálico. Insisti na minha auto-decisão profilática e continuei lendo. Gosto de meu trabalho. Não gosto é de ser obrigado a trabalhar. Bem-vindo ao clube!

Às 12h55’, com um prato de comida apetitoso nos braços, ligo a TV. Havia concordado comigo mesmo em ver uma comédia hollywoodiana rápida: “O Ex-Namorado da Minha Mulher” (2006, de Jesse Peretz). Para minha surpresa, a identificação com o protagonista foi imediata: às vésperas de ter um filho, Tom (Zach Braff) caminha para o seu trabalho como cozinheiro de forma rotineira, como faz todos os dias. Logo percebemos que seu ambiente de trabalho é um caldeirão de preconceitos e humilhação. Incapaz de ficar calado diante da inadmissível demissão de um colega hispânico, atira molho contra seu chefe. Brigam em pleno salão do restaurante e ele é despedido. Inúmeras outras situações cômicas e inspiradas ocorrem até que ele consinta em aceitar um emprego na agência de publicidade em que seu sogro trabalha. E lá o título do filme passa a fazer sentido, em virtude da maquiavélica presença de um deficiente locomotor pernóstico. Ponto. Contar mais atrapalha o filme e a reflexão dele proveniente.

Como todos sabem, trabalho com atendimento ao público. Porém, motivos pessoais me impedem de sentir pseudo-compaixão demagógica, lamuriosa e convencional de quem é considerado “incapaz” pelo sistema. Neste rol, são incluídos os deficientes físicos, os idosos e as mulheres grávidas. Como estes são tendenciosamente viciados em receber a referida pseudo-compaixão, prefiro sempre que eles sejam atendidos por outras pessoas. Motivo: trato-os como iguais. Nem sempre é suficiente, infelizmente!

Voltando ao filme: o que achei mais interessante em seu roteiro é que o mesmo critica sub-repticiamente a chantagem emocional a que alguns deficientes ficam viciados. Insisto no termo “sub-repticiamente”: o filme possui texto e subtexto. É uma comédia inteligente, é um filme-denúncia para todos aqueles que estão a envelhecer e são levados a pensar por outrem que estão a desperdiçar suas vidas em empregos modorrentos. Talvez estejamos, mas talvez seja inevitável. Talvez a solução seja recorrer à utopia listada pelo Teixeira Coelho. Ou não!

O que eu lamento é que o final do filme peretziano abdique da sutileza com que tratava o tema (evitando consolos forçosos em virtude da delicadeza do tema dramático sub-reptício) e creia que competição possa ser sancionada com demérito (em minha opinião, a reviravolta competitiva que ali acontece é preconceituosa sim), mas creio que nessa instância o problema esteja relacionado a diagramas ideológicos (e nacionais) mais amplos. Mas foi bom ter visto o filme. Quase muito bom! E ainda estou tonto...

Wesley PC>

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