quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dorothy Tinha Razão


Pois bem queridos amigos da nave Gomorra, finalmente voltei para a companhia dos amados anjos Charles.
Quando vinha na direção de Rancharia, vim pensando em escrever algo sobre as cidades, pois estando no estado de SP os inacabáveis espaços urbanos dão um sentido muito mais intenso para a frase "Capitalismo Selvagem".
A primeira vez que pisei os pés em solo Paulista, estava em um posto de gasolina onde o ônibus que fazia a rota Ubelândia/Marilha tinha feito uma para de 20 minutos.
Entre a estrada e a enorme lanchonete do posto havia um considerável estacionamento e, fincado no canteiro que dividia o então estacionamento da estrada se prostrava uma enorme placa de vermelho "vivo" de anúncio da Coca-Cola, estando à cima outra enorme propaganda do então posto.
Aquilo foi muito estranho! Ao redor do posto havia uma mata que mesmo na escuridão da noite se percebia que já se tinha sido modificada.
Aquela cena era como um mar de artificialidade que no silêncio noturno ambientava uma solidão por demais urbana.
Como decidi que não manguearia na então lanchonete, me encostei próximo ao banheiro e fiquei a ouvir à alto volume a sintonia de uma rádio que saia das caixas de som do então lugar.
De repente, um solo de guitarra me tomou o pensamento e logo indentifiquei que era a introdução de um clássico da banda Alemã Scorpions.
De súbito lembrei do grandiosissimo amigo João Paulo que, como eu, sempre tinha o costume de cantar em falsete as canções do grupo.
Porém, aquele som que em Aracaju muito me animava, naquela imensidão de solidão urbana parecia somar-se a então condição. Como Ilustração recordei de uma cena muito famosa nos filmes de terror.
Um guarda noturno está a fazer qualquer coisa, enquanto no fundo há um som de rádio bem baixo, que em meio o silêncio chega a ecoar. Porém o som parece vazio; ele dá sentido a cena, mas ao mesmo tempo tem um aspecto oco.
Foi o que sentir no então posto.
Seguir viagem pela madrugada e enquanto olhava o reluzir de raios nas formações de nuvens que não faziam o mínimo de barulho, fui pensando em escrever a então cena para o antigo companheiro de classe. Mas as idéias foram tomando tamanhas formas, que por fim tinha estruturado uma ótima análise sobre as cidades.
Antes de fazer essa viagem já tinha conhecido outros lugares, no entanto sempre à conta gotas e mais ainda no esquema turísta: vc junta uma grana e se vira com ela para ver o que tem de massa no local.
Mas agora, ainda que na maioria das cidades tenho passado em média 15 dias, a falta de grana e consequentemente a necessidade de se contar com as ajudas dos habitantes locais, permitiu uma percepção mais real do que é cada lugar; do que é o urbano e o rural; do que é Brasília para o restante do Brasil.
Essa visão, só possívil depois desses meses de viagem, me recorda as belas palavras de Dorothy no fabuloso Mágico de Oz: "Não há lugar como o nosso lar!".
Certa vez conversando com o sábio Leno e o admirável Baiano, o primeiro me falou de uma frase que, se não me engano, fora dita pelo vocalista do Engenheiros do Hawai: "provinciano é aquele que sai da província".
Por vezes, se dá a palavra provinciano um sentido pejorativo, como muitas vezes ouvi e falei da característica de Aracaju ser um lugar onde as pessoas se fecham para o diferente, não sabendo conviver com este. Para quem morou na Gomorra e, ainda mais tendo esse minha característica de divulgar as coisas boas que por ventura esteja à fazer, comprovo cada palavra do parágrafo à cima.
Mas a condição de menor estado; o que não dá um notoriedade para as 72 cidades; a brandura do capitalismo que só agora percebo; a condição de capital litorânea que ainda consegue ter extensos espaços de praias semi desertas na própria cidade; muito diferente das outras capitais e até dos estados nordestinos; são simples condições que apesar dos pesares hoje me faz escolher (se caso volte a morar em espaços urbanos) Aracaju como moradia.
Lembro de Barba comentando sobre Recife, SP (esta então só nós sabemos o que ouvimos sobre); das possibilidades que estas cidades permitem; e em contra ponto lembro de Wesley...
Pois bem, se um dia discordei das provincianas palavras de Dorothy , hoje; 3 meses, 6 dias, 19 horas e 33 minutos depois da minha saída, propago a todos que " Não há lugar como nosso lá" ( levando em consideração que não estamos colocando a estrada na discussão).

3 comentários:

Gomorra disse...

me peguei perdida...q sempre consegui sentir o "lar" em qlq lugar q fosse amada.

anne

Unknown disse...

Sábio? Pare com isso mininu! Eu preciso de um "Si" pra me tornar um Sileno, o sábio semi-deus grego.

Rapazm num é que ao começar a ler seu texto, logo lembrei da frase do lourinho dos Engenheiros. Acho que concordo com ele, com Dorothy e com meu velho amigo Helber que também me disse que prefere morar em Aracaju depois de ter passado 3 anos fora.

Manda mais reflexões, caro Coelho!

Pseudokane3 disse...

Amado Coelho, lindíssimo texto...

È incrével como eu, tu e Rafaelzão estamos concordando neste sentido! Soubeste que eu fui a Minas Gerais (magnífico) e voltei quase ufanista de tão apaixonado por minha cidade? Então, tem dessas, né?

Aguardando retorno, então.

Perfeita a frase do Engenheiro!

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