segunda-feira, 29 de outubro de 2012

“O AMOR É VIDA E, COMO A VIDA ACABA RÁPIDO, O AMOR ACABA RÁPIDO TAMBÉM!”

Quando me dispus a ver “Colegiais em Sexo Coletivo” (1985, de Juan Bajon), meu interesse dominante era muito mais científico do que entretenedor: como este filme faz parte do escopo analítico de minha pesquisa de Mestrado – em termos limítrofes etários, para ser específico – tive que prestar atenção redobrada à exibição, no sentido de que cada frase, cada movimento de câmera, cada gesto actancial, cada gozada...

 De fato, por ser um filme pornográfico (logo, centrado em casais que fazem sexo), o filme não estava sendo exitoso no que tange à minha excitação sexual, visto que tenho um problema reiterado em me interessar libidinosamente pelos atos eróticos de entrosamentos penetrativos, mas me encantou sobremaneira em seu registro minucioso dos preconceitos da classe aquisitivamente dominante na década de 1980: a classe média emergente e universitária. Logo na primeira seqüência, filmada no Motel Bariloche, os três (supostos) casais de jovens que fazem sexo divergem opinativamente acerca do filme pornográfico estadunidense que estava sendo exibido num televisor do motel. Um dos rapazes, em pé e se masturbando – com um pênis tão grande quanto um jegue, segundo um comentário de seus colegas – confessa que prefere os filmes pornográficos estrangeiros, visto que, segundo ele, no Brasil, os atores atuam com “os paus moles”, o que é inadmissível para ele. Uma das moças acrescenta que acha um absurdo a falta de profissionalismo das atrizes no País, visto que, segundo ela, algumas até mesmo cometem o disparate de tentarem ser estrelas de telenovelas, mas logo são despachadas por falta de talento. Está claro que o produtor, roteirista e diretor Juan Bajon estava alfinetando os colegas da Boca do Lixo paulistana que abandonaram a produção de filmes eróticos depois que estes sucumbiram ao sexo explícito, problema-chave de minha futura dissertação de mestrado. Mal conversaram e (não) chegaram a um consenso, e o elenco já estava fodendo e gemendo...

 Mais tarde, um dos casais é priorizado pela câmera e pelos microfones: ele estuda engenharia e recusa-se a trabalhar para o pai, visto que este é muito rigoroso até mesmo na hora de dar a mesada. Ela é formanda em Letras, mas, segundo ele, teria mais sucesso financeiro se fosse prostituta, por causa de sua “cara de gueixa ninfomaníaca”. Numa seqüência seguinte, uma estudante de Enfermagem recusa-se a conversar sobre a morte com seu parceiro sexual, que estuda Ciências Econômicas e também se recusa a trabalhar na indústria do pai rico, preferindo, fazer carreira no exterior. Apesar de ela concordar que ele tem cara de grã-fino, ela nota que suas mãos parecem de operário. Deixa estar que, sem que eu imaginasse, tanto as moças quanto os rapazes estavam mentindo acerca de suas condições sociais: elas não são filhinhas-de-pai e eles trabalham numa oficina mecânica. Fiquei absolutamente impressionado e satisfeito com esta brilhante mudança de tom no enredo, que, afinal, demonstra-se crítico e não apenas reiterativo (ainda que documentalmente) como nas seqüências anteriores...

 Seguindo em frente na descrição narrativa da trama do filme, os três casais juvenis resolvem passar na casa de um casal de michês que promovem bacanais orgiáticas, enquanto cuidam de seu filho pequeno. O detalhe: apesar do clima de suruba, cada um continua transando com quem já estava transando antes, salvo por uma briga manifesta quando a prostituta se recusa a participar de uma penetração dupla que não envolva o seu marido. Mais: se eu estava a reclamar que o filme não me excitava, isso deixou de ser verdade quando a referida prostituta atendeu ao telefone chupando o pau de seu marido e comentando que “Deus incentiva a sacanagem”, visto que, freqüentemente, bispos e madres superiores buscavam-nos para foder. Um escândalo a coragem denuncista do filme, considerando-se o ano em que fora produzido...

 Apesar de não ser tão interessante quanto os produtos congêneres de Fauzi Mansur, Ody Fraga ou Jean Garrett, que inserem o sexo explícito num contexto muito mais autoral, o diretor Juan Bajon (de quem, até então, não vi nenhum filme além desse) merece créditos encomiásticos mais pela surpreendente inversão de perspectiva roteirística do que pela condução do filme em si. Mas, tenho que confessar, o garotinho mimado que transa com a garota oriental atraiu a minha atenção muito mais do que a sua ejaculação abundante na câmera faz pressupor. Ou seja, assistir a este filme fez com que eu me sentisse um pouco mais inteligente e sagaz, ainda que não necessariamente "erétil" diante deste tipo de produto audiovisual!

 Wesley PC>

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