domingo, 14 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 9 [“UM SONHO POSSÍVEL” (2009, DE JOHN LEE HANCOCK)] E O POSSÍVEL DESFAZIMENTO DOS PEDESTAIS

Exercício pessoal de tolerância:

a) Olhe para a foto acima;
b) Saiba que a chata Sandra Bullock é a protagonista e que sua atuação insossa está sendo hipertrofiadamente elogiada por outrem;
c) Tenha certeza de que se trata de uma história real;
d) Choque-se ao perceber que o que se contava da sinopse deste filme é ainda pior em longa-metragem;
e) Tente ficar incólume a esta nojeira.


Quem consegue passar por estes 5 passos e permanecer incólume? Eu não consegui. Daqui a alguns anos, este filme será exibido em canais alegadamente femininos como o Hallmark Channel ou Fox Life e, dentro de alguns anos, será a estréia de peso do programa “Supercine”, da TV Globo. Somente estes veículos midiáticos permitem que filmes abomináveis e disfarçados de lições vencedoras de moral como este sejam divulgados. Se o mesmo não estivesse indicado para dois absurdos e industrialmente importantes prêmios da Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, talvez eu jamais chegasse a ver este filme. Ou talvez até visse por acidente, mas ignorasse seus efeitos negativos em segundos, supondo que é possível ignorar toda a chatice esportiva norte-americanóide que se estende por 128 árduos minutos de duração. Do que se trata o filme? Segue um resuminho básico e, de longe, mais suportável que o filme em si (risos):

Logo no começo, vemos um jogo de futebol americano sendo transmitido pela TV. A narradora personalística explica alguns passos importantes que se desenrolam em câmera lenta na tela, dando atenção devida ao que significa “o lado cego” do título original do filme. Em seguida, somos apresentados ao protagonista Michael Oher (Quinton Aaron), um imenso e assexuado garoto-problema de 17 anos de idade, filho de uma viciada em ‘crack’ que já pariu e abandonou pelo menos 11 crianças. Ele locomove-se com dificuldade, não sabe ler direito e é ludibriado de forma canhestra por uma assistente social numa cena ridícula do filme. Dá vontade de empurrá-lo por causa de sua lerdeza, mas, não, isto é errado. Ele só precisa de ajuda, de cuidados. Uma rica assumidamente brega o adota, compra-lhe roupas e uma caminhonete preta e descobre que ele obteve 98% de sucesso num teste de zelo e proteção instintiva na escola em que ingressa. Transforma-se num bem-sucedido jogador de futebol americano, disputado por várias universidades, ostentando imagens reais de sua existência durante os créditos finais, ao som de uma péssima canção xaroposa do grupo Five for Fighting (“Chances”). Alguém realmente se interessou para ver este filme com base neste relato? Se existir alguém, favor me telefonar AGORA que eu gravo um Dvix com todo o prazer do mundo!

De resto, o filme serviu para que eu presenciasse a queda de um ídolo, um dos maiores desta indústria, aliás. O músico responsável pela trilha sonora incidental do filme é meu amado Carter Burwell, responsável por todas as belas partituras dos filmes amargos de gênios como Ethan & Joel Coen e Spike Jonze. Vou acreditar que ele só esteve ali, se sujando, deteriorando sua arte, porque é amigo íntimo do diretor, sei lá. Recuso-me a acreditar que ele sentiu paixão ao compor aqueles acordes purulentos. Recuso-me. Amo Carter Burwell de paixão, por mais que a inaptidão directiva de John Lee Hancock pretenda o contrário!


Wesley PC>

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