domingo, 14 de fevereiro de 2010

INTERRUPÇÃO II: AQUELAS MÚSICAS QUE NÓS (SÓ) OUVIMOS (BEM) EM CASA!

Fui criado 27 anos morando no mesmo lugar, viajei pouco e, voluntariamente ou não, fiquei muito tempo sozinho. Por causa disso, desenvolvi uma relação muito idiossincrática e dependente em relação às músicas que desejo ouvir. Ontem, eu estive confinado na casa de um amigo cujo gosto musical é demasiado ‘pop’ e ‘gay’. Precisava ouvir algo melancólico ou revoltoso, mas só encontrava CDs com Beyoncé, Lady Gaga, Abba ou Maria Gadú (com acento mesmo). Tudo bem, até que curto algumas destas canções, mas não era bem o que eu e outro amigo precisávamos na situação em pauta. Tentamos nos consolar com uma seleção de Bossa Nova, mas não serviu. Ele cantarolava “A Menina Dança” enquanto tomava banho, enquanto eu queria chegar em casa e ouvir novamente “Universal Mother” (1994), álbum da polemica irlandesa Sinéad O’Connor que não sai de minha cabeça por causa da devastadora faixa “Fire on Babylon”, em que ela amalgama seu típico protecionismo materno (vide o título do disco) com o tom de protesto que talvez tenha guarnecido após sua colaboração tangencial com o diretor Jim Sheridan no ano anterior ao lançamento do disco com “(You Made Me the) Thief of your Heart”, que interpretou para o U2 na trilha sonora do ótimo e revoltoso filme “Em Nome do Pai” (1993).

“Fire on Babylon
Oh yes a change has come
Look what she did to her son
Fire”

Nem é preciso conhecer muito da vida pessoal da cantora para entender todas as suas referencia, influencias e recorrências tramáticas. Cria que ela já teve um relacionamento amoroso com Peter Gabriel, sei que ela rasgou a foto do papa João Paulo II num programa de TV, sei que música ‘new age’ é algo que lhe faz bem e que o amor por seus quatro filhos é indubitável, mas, para além de tudo isso, ela é uma intérprete primorosa, conforme quase se pode perceber na regravação de “All Apologies”, do Nirvana, e nas citações de The Beatles, mas que se confirma em músicas maravilhosas como a já citada em verso, “Red Football” (muito diferente do restante em seu refrão estridente) e “Thank You for Hearing Me”, que extravasa a doce chantagem cara a quem possui qualquer tipo de distúrbio psicológico. E, na moral, Sinéad O’Connor é bipolar por excelência!

Wesley PC>

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