sábado, 13 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 6 [“BASTARDOS INGLÓRIOS” (2009, DE QUENTIN TARANTINO)] E POR QUE O FETICHE DA VINGANÇA NÃO IMPEDE A INVEJA CONTRA UM TRAVESTI

Que fique bem claro no começo desse texto: Quentin Tarantino é um cineasta genial! Por isso, qualquer cena dirigida por ele, mesmo que eu desgoste eventualmente, é carregada de muita paixão cinefílica, de vigor estético, de uma pletora de referências ‘cult’ e ‘trash’ simplesmente invejável. Porém, algo faz com que eu me desentenda com este filme, mais especificamente a partir do segmento intitulado “Operação Kino”. Fico chateado com a pretensão insuspeita do cineasta, que destila toneladas de citações à cinematografia berlinense das décadas de 1930 e 1940 a que muitos de nós jamais chegarão a ter acesso (visto que, inclusive, muitos dos filmes nazistas citados pelos personagens foram destruídos pelas forças aliadas) e desvia a condução brilhantemente ascendente dos três primeiros capítulos do filme, que infundem brilhantemente nossa empolgação e deslumbre diante dos três principais focos narrativos do roteiro. É uma falha menor, eu sei, mas ela fez com que eu também me irritasse sobremaneira com a vingança fetichista da personagem Shosanna (Melanie Laurent), que, sob o codinome de “grande cabeça da vingança judia”, comete alguns impropérios contra figuras históricas como Adolf Hitler e Joseph Goebbels que, definitivamente, não sobreviveram ao crivo tolerante de meu senso de humor. Só vendo o filme para entender adequadamente o que falo!

Antes de revê-lo, na madrugada de ontem para hoje, um dos meus companheiros de sessão, alguém que sabe que eu sinto uma atração sexual fortíssima por ele, mas que se recusa terminantemente a qualquer toque erótico de minha parte, mesmo quando há ridículas ofertas de R$ 50,00 (cinqüenta Reais) em pauta, confessou que recentemente pagou R$ 10,00 (dez Reais) para que um travesti chupasse seu pau. Repito: ele pagou para que outro homem fantasiado de mulher lhe fizesse sexo oral enquanto eu empenharia qualquer bem material que estivesse em minhas mãos num dado momento para ter o prazer de realizar a mesma ação. Fazia tempo que não me sentia tão traído. Tremia de raiva e/ou tristeza enquanto lavava os pratos e ouvia-o dizer que comigo é diferente: “é que tu és meu amigo, Wesley!”. Contra-argumentei: “justamente por eu ser teu amigo e vice-versa que não seria nada de mais aliar a tua necessidade de prazer físico ao meu desejo de ter teu pênis em minha boca”, mas a conversa rumou por vias mais tempestuosas, que atravessaram quase 12 horas e fizeram uso recorrente de termos como “egoísmo” e “intolerância”. Sorte que houve o filme entre nós dois para utilizarmos como parábola.

Voltando ao filme: com todas as minhas insatisfações derramadas sobre ele (a defesa da violência incondicional pelo personagem de Brad Pitt me dá arrepios – risos), admito que o mesmo é genial, conforme disse no começo. A seqüência de abertura é simplesmente preciosa, uma aula de cinema, de autoridade e, principalmente, de sociolingüística multi-idiomática. Qualquer aparição do justificadamente premiado Christoph Waltz enche o filme de muito brilho. Ele merece! A reputação do Coronel Hans Landa, de fato, precede mui dignamente as suas aparições.

Wesley PC>

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