sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 5 [“UM HOMEM SÉRIO”(2009, DE JOEL & ETHAN COEN)] E AS SURPRESAS COTIDIANAS DO AMOR QUE QUASE NÃO MAIS PERCEBEMOS QUE SENTIMOS

Não são poucas as críticas e resenhas que este é um filme difícil de ser entendido. Ao contrário do que acontece com os preguiçosos e com aqueles que detestaram o final misteriosamente onírico de “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), receio dizer que este filme é bastante claro em seu poder fabular, em seu somatório crescente de parábolas judias, num verdadeiro inventário do que é o amor cotidiano, aquele que nos afeta, que nos punge, que nos faz sofrer e continuar desejando estar vivos.

Não que o filme não seja um tanto estranho a princípio. Os 10 minutos iniciais, por exemplo, são falados em iídiche e acompanham a maldição que supostamente se abate sobre um casal depois que o homem da relação dá abrigo a um espírito morto de febre tifóide há três anos. Durante os créditos de abertura, não reconheci o nome de sequer 01 (um) ator. Quase cheguei a pensar que se trata do filme errado, se não reconhecesse os maravilhosos acordes de Carter Burwell, um dos mais divinos músicos de cinema já nascidos e habitualmente associado aos filmes dos diretores. Estava diante de uma legítima semi-obra-prima coeniana, tive certeza!

Durante a sessão, recebi o telefonema de duas pessoas: uma amiga recifense que me explicava que eu passarei a entender e amar o Carnaval depois que passear por Pernambuco durante as festividades do maracatu ao lado dela; e um garoto que amo (e que muito me fez mal no passado, dizendo que jamais voltaria a falar comigo), ansioso para saber quais documentos necessitará apresentar ao setor em que trabalho caso seja convocado como excedente do vestibular deste ano. Atendi bem a ambos os amigos, enquanto minha mãe dormia no quarto, recuperando-se da diarréia que a afligiu no dia anterior. Olhei para os lados, para a tela paralisada da TV e pensei comigo mesmo: “amo a minha vida e as pessoas que me cercam”.

Talvez sem muita pretensão, talvez entupido de uma justificada e aguardada pretensão, é justamente sobre isto que o maravilhoso filme aqui descrito versa. O protagonista é um professor de Física que se digladia diuturnamente na tentativa de explicar a validade do Princípio da Incerteza de Heisenberg a seus alunos, por mais que o mesmo não seja compreensível (vide a extensão espacial do quadro-negro preenchida com equações na fotografia!); sua esposa exige uma cerimônia ritualística de divórcio a fim de se casar com um judeu viúvo que é amigo da família; seu filho mais novo vive em problemas com um vizinho traficante de maconha por não conseguir recuperar os 20 dólares apreendidos por um rabino-professor quando ouvia “Somebody to Love”, do Jefferson Airplane, durante uma aula idiomática na sinagoga; e sua filha mais velha vive agoniada por não poder lavar o cabelo no banheiro de sua casa, em virtude da necessidade constante de drenar um cisto uretral por parte de seu tio louco, matemático, apostador e sodomita. Situações e pessoas que podem estar ao nosso lado a qualquer momento, num filme que, acima de qualquer coisa, é ótimo justamente por ser comum.

Enquanto o via, percebia que estava atrasado para o trabalho. Como estou com um saldo sobressalente de horas trabalhadas, pedi que me substituíssem no expediente externo por alguns minutos, enquanto eu “resolvo um problema aqui em casa”. Chegarei atrasado de propósito, visto que necessito descansar, refletir, viver, encontrar pessoas, amar meus semelhantes, pequenas obrigações que me estavam sendo impedidas em razão da pletora burocrática que se acomete sobre parte da UFS nos últimos dias. Preciso descansar!

Wesley PC>

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