segunda-feira, 3 de maio de 2010

MODINHA SOBRE A ORFANDADE ANTITÉTICA

Na sexta-feira passada, encontrei um amigo pretensamente “independente” vestindo uma camiseta da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. Não lembrava de ter ouvido sequer uma canção completa da banda até então, mas o álbum mais recente da mesma (“C_ompl_te”, datado de 2009) foi largamente elogiado pelos redatores de meu guia de TV por assinatura, algumas de suas faixas são largamente executadas na TV Cultura e uma cúmplice recifense de 13 anos de idade põe algumas das canções da banda como sendo suas favoritas, ao lado de baladas adolescentes interpretadas por artistas como Miley Cyrus, McFly ou Paramore. Na manhã de hoje, tive os primeiros contatos sonoros com esta banda e, ainda no primeiro acorde, percebi porque ela faz sucesso para aqueles que se sentem órfãos de Los Hermanos. Entretanto, logo constatei que quase todas as canções do disco faziam uso insistente de antíteses, o que causou um certo enfado durante a audição. “Adeus” prima pelo uso romântico das rimas, “Lista de Casamento” tem algo que emula o Roberto Frejat feliz e “O Tempo” é um tanto pedante, apesar de parecer bem-intencionada (contendo o afetado questionamento “Ah, será que o tempo tem tempo pra amar?” num de seus versos finais). A faixa 04, “Cão Guia”, foi, portanto, a primeira que conseguiu me fisgar efetivamente, seja pelo caráter de odisséia perdedora que associa o azar contumaz do eu-lírico no amor à sua sorte periclitante nos jogos, seja pelo endossamento dramático do animal altruísta contido no título (“Andava cego de amor e o meu cão guia não sabia se seguia minha dor”). Daí por diante, constatei que as demais canções insitiam em fazer brincadeiras vocabulares envolvendo expressões de sentidos opostos [exemplos: “Sempre que eu tento acabar, já desisto antes do fim/ Sempre que eu tento entender, nada explica muito bem”, na faixa 07, “Para Manter ou Mudar (A Do Piano)” e “Já não sabia se era o inicio ou fim/ Vivia imersa numa infância de festim/ Era a criança menos infantil/ Infelizmente, namoradinha do Bra...”, na faixa 10, “Cheia de Manha”). Posso não ter me tornado fã, como muitos fazem acompanhando a “modinha pimba” e confesso ter me decepcionado um pouco com o deslumbramento pueril da banda, mas... Ainda estou em estado de averiguação avaliativa. Quem sabe em breve, eu não consiga emitir um parecer subjetivo acima (ou abaixo) da mediania?

Wesley PC>

2 comentários:

Rafael Maurício disse...

eu gosto moderadamente do primeiro álbum, não consigo achar a banda ruim por mais que eu tente, porém é praticamente impossível ouvir o álbum sem enjoar na metade, as músicas são muito parecidas entre si.

Gomorra disse...

Não achei a banda ruim não, mas, é como tu disseste: só ouvi o segundo álbum e, na moral, AS MÚSICAS SÃO MUITO, MUITO PARECIDAS ENTRE SI!

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