domingo, 2 de maio de 2010

FAZ-SE CONCURSO PARA SER IGNORANTE?

Minha primeira experiência como fiscal de certames deu-se em 2002, num concurso vestibular. Lembro que, à época, fiquei muito tenso em ser convocado para ser fiscal volante (aqueles que têm a responsabilidade de conduzir as pessoas até o banheiro), com medo de não controlar as minhas taras urinárias bastante eminentes. A fim de evitar esta tensão, chegava cedíssimo às reuniões de equipe e suplicava para ficar no interior das salas de aula em que se faziam as provas. Não tive a mesma sorte na manhã de hoje...

Depois dos inúmeros problemas que cercearam a aplicação das provas para provimento de cargos administrativos na UFS em 2010 (largamente divulgados na mídia e que causaram até mesmo a exoneração de funcionários), foi cancelada a primeira etapa do processo e, hoje, 02 de maio, uma nova chance foi dada a quem se sentiu prejudicado pro regras de hermenêutica fotográfica no primeiro edital. Fui convocado como fiscal-reserva após uma concorrida seleção e, mesmo tendo chegado cedo, fui eleito para ser volante. Não mais me preocupava com a possível evocação de taras (visto que, para além da beleza hipotética dos candidatos, meus pensamentos agora estão diuturnamente centrados numa pessoa bem específica), mas, ao invés disso, fui apresentado a um inconveniente bem maior: minha função consistia em ficar sentado numa cadeira, ao lado de quatro outras pessoas, aguardando a oportunidade em que alguém porventura necessitasse de meus auxílios para-logísticos. Enquanto este tipo de oportunidade não chegava, ouvia as conversas das pessoas que trabalhavam ao meu lado, todos funcionários longevos da UFS, e... Que tristeza! Naquelas 5 horas de fiscalização, entendi o porquê de tantos preconceitos contra funcionários públicos serem disseminados ao longo de anos e anos e anos...

No entretempo trabalhista que compartilhei com aquelas pessoas, elas ficaram apenas comparando gastos com imposto de renda e reclamando de absolutamente tudo o que acontecia ao seu redor. Reclamavam que eram providos com água “torneiral”, reclamavam que é difícil fazer sexo com o salário baixo que recebem, depreciavam o serviço médico particular do Estado, zombavam da atitude de um grupo de proto-ambientalistas universitários que depositaram uma cruz no local onde havia uma árvore derrubada por pedreiros... Pouparei de falar sobre a brutalidade contida em seus tons de vozes, mas tenho que dizer que nada se compara em mal-estar avaliativo ao momento em que um dos chefes de vigilância aproximou-se de nós e começou a elencar todos os seus vitupérios contra o projeto de legalização da maconha, contra a porra-louquice dos estudantes, contra tudo o que passasse por diante dele, em suma. Fiz o possível para fingir invisibilidade, ostensivamente de costas, temendo que qualquer uma daquelas pessoas me convocações para anuir com qualquer uma de suas opiniões deploráveis. Por sorte, eventualmente me chamavam para substituir alguém na vigilância da sala de aula enquanto outro contratado precisava beber água ou ir ao banheiro. Fortalecia-me ao lembrar de Oscarito dançando fantasiado de rumbeira cubana em “Aviso aos Navegantes” (1950, de Watson Macedo), divertidíssimo filme que vi antes de dormir e que, não obstante sua popularidade e acessibilidade carnavalesca, talvez não seja conhecido por nenhuma daquelas pessoas imotivadamente reclamantes. Pena... Por isso, os estereótipos continuam, agora bem mais consolidados do que antes!

Wesley PC>

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