segunda-feira, 9 de novembro de 2009

TALVEZ NÃO FUNCIONE PARA QUEM NÃO É CARNÍVORO...

È o que sou obrigado a concluir diante de “Estômago” (2007, de Marcos Jorge), filme elogiadíssimo por diversos amigos cujas opiniões eu respeito. E, quando falo carnívoro, não me refiro apenas a quem come carne no sentido literal da palavra, mas quem aprecia o corte de carne (humana, inclusive) num sentido mais amplo, em especial no que diz respeito à legitimação de uma cadeia alimentar imaginária, em que o poder é almejado e patenteado enquanto diferenciador de pessoas. Em ambas as acepções do termo, não faço parte do que seria o público-alvo do filme. Conclusão: por mais que eu concorde que ele seja tecnicamente bem-feito, que as atuações de João Miguel e Fabiula Nascimento são, de fato, muito boas e que, tecnicamente, o filme é otimamente realizado, as soluções encontradas pelo roteiro para despertar simpatia em relação ao protagonista não me convenceram. Tanto no que diz respeito à montagem diacrônica, em que acompanhamos a sua evolução como cozinheiro em duas narrações temporais alternadas (quando ele chega à metrópole em que vai viver e quando ele ingressa na prisão, por motivos só revelados em momentos finais e decisivos), tanto no que diz respeito à pavorosa moral contida na última cena, em que a posição superior num beliche subentende um elogio pernicioso à esperteza criminal, aparentemente válida nos contextos imorais da vida real que engendraram o argumento fílmico. Resumindo: enquanto filme, “Estômago” é bastante regular. Enquanto exemplo público pretensamente humorístico, é amedrontador!

Wesley PC>

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