sábado, 15 de fevereiro de 2014

DE QUANDO É NECESSÁRIO (DIGO, PRECISO) REPENSAR...

Ter finalmente visto aquele que os críticos consideram a obra ozuniana suprema deixou-me um tantinho angustiado. Não necessariamente porque eu não achei que este seja o melhor filme de Yasujiro Ozu (o que é irrelevante, já que seus filmes se encadeiam minuciosamente e são quase todos sutilmente geniais), mas porque senti como se eu estivesse emocionalmente blindado durante a sessão. Mais à frente, constatei que isso também não era problema: meu amigo Jadson concordou comigo que este é um filme cujos efeitos reais surgem a posteriori. Dito e feito...

Quando eu voltava para casa com alguns amigos, após a sessão, testemunhamos um acidente motociclístico: a fim de evitar o atropelamento de um cachorro, um casal se joga no chão. Ambos se machucam bastante e os amigos que estavam comigo no automóvel saem para ajudá-los. O motorista do veículo em que eu estava leva a garota ferida em casa e, alguns minutos depois, ele se despede de mim, perguntando o nome do cachorro que latia diante de meu portão. Em sua casa, talvez uma mulher querida esteja a morrer...

Não consegui dormir quase nada nesta noite, tanto quanto os personagens na cena mostrada em fotograma, quando têm problemas de sono por causa de um jovem casal em lua-de-mel, no hotel de luxo em que estavam... Imagens bonitas e/ou preocupantes envolvendo-me em relação a meus amigos misturavam-se em minha cabeça, enquanto prestava atenção à minha mãe adoentada, que dormia a meu lado. Folheei um livro sobre o cineasta japonês que tinha em casa ["O Anticinema de Yasujiro Ozu", de Kiju Yoshida], mas discordei das observações repetitivas do autor, o que não impediu que eu me visse relendo com avidez alguns truísmos. Exemplo: "o que de fato não se pode esconder é que a condição humana nos obriga a fingir sempre para poder continuar a viver de modo 'normal' neste mundo transbordante de caos" (página 196). E, assim, alguns ressentimentos se misturam ao anseio de ser uma pessoa melhor para mim e para os outros. Hora de corrigir os primeiros e focar no segundo! Sempre...

Wesley PC>

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