Nesta segunda-feira, 08 de julho de 2013, aniversário de
setenta e um anos de minha mãe, eu e diversos de meus amigos ficamos ansiosos
para a chegada das vinte e duas horas, quando teríamos a oportunidade de
conferir uma entrevista com o filósofo esloveno Slavoj Zizek. O curto tempo do
programa (apenas uma hora e meia de duração), aliado às perguntas nem sempre
interessantes e ao frenesi do entrevistado, que parecia estar sob efeito de
cocaína, causou um desconforto particular em mim, que fiquei deveras
decepcionado com a desorganização do programa. Enquanto futuro jornalista,
incomodei-me bastante com o debate tornado raso, tamanha a desconexão entre as
perguntas, que desaproveitavam os poderosos ganchos teoréticos despejados pelo
filósofo, que, ao final, se define sardonicamente como “um intelectual
corrupto, como qualquer um de nós”...
Dentre os aspectos da conversa que mais me chamaram a
atenção estão as menções a Peter Sloterdijk, Fredric Jameson e Francis
Fukuyama, todos aparentemente amigos do filósofo, a sua brincadeira
nomenclatural com o presidente cubano, a quem ele disse permanecer “fiel à
castração”, o apelo à definição básica freudiana de que, principalmente no
capitalismo, “as nossas necessidades são mediadas pela inveja”, e a sua confissão
pela primazia da teoria quando lhe interrogam como ele enxerga as relações
entre teoria e prática na atualidade. Porém, o ponto máximo do programa, foi
quando ele contou a seguinte anedota:
Num debate comunista imaginário, pergunta-se se, no regime
socialista adotado, haverá ou não dinheiro. Nikolai Bukharin responde: “sim,
haverá dinheiro!”. Leon Trotsky recusa: “não, em nossa sociedade não haverá!”.
Ao que Josef Stalin intervém, em voz alta: “é preciso fazer uma síntese
dialética: em nossa sociedade haverá e não haverá dinheiro. Alguns o terão e outros não...”.
Era uma piada, mas
diz muito sobre as contradições retroalimentadas do panorama sociopolítico
hodierno. Recorrendo citacionalmente muito mais a Friedrich Hegel que a Karl
Marx, por conta do lançamento de um livro recente “Menos que Nada: Hegel e a Sombra do Materialismo”, o filósofo esloveno
parafraseia o filósofo alemão e alega que “a Filosofia pode apenas pintar o
cinza sobre o cinza”. Achei mui peculiar tal imagem retórica, ao passo em que
me decepcionava com as charges desenhadas imediatamente após os pronunciamentos
do entrevistado, simplificando-os em excesso, como quando, numa comparação com
uma entidade hinduísta – motivada por causa da velocidade com que Slavoj Zizek
mexe as mãos – o desenhista associa o filósofo a Mahatma Gandhi. Não foi bem
isso o que ele tinha em mente quando sorriu ao perceber que fora cotejado a um
indiano...
Minha maior chateação em relação ao programa, para além de
seus visíveis defeitos constitutivos, foi a ignorância dos interessantes
comentários que o entrevistado poderia lançar sobre cinema, uma de suas
especialidades. Num rápido momento, entretanto, ele pode se servir de uma idéia
levantada pelo analítico Stanley Cavell para definir como prevalece (ou melhor,
deveria prevalecer) o fervor revolucionário nos dias hodiernos: tal como acontece
nas comédias hollywoodianas das décadas de 1940 e 1950 – as dirigidas por Ernst
Lubitsch, Leo McCarey e Howard Hawks, principalmente – a instauração do
divórcio e, em seguida, a sua supressão e o retorno ao bem-estar marital
inicial deveria ser tomado como metáfora adequada à mudança social efetiva que
se segue às comemorações empolgadas diante de manifestações e/ou conclamações
públicas a respeito de uma dada situação. Havia ele antecipado que, com exceção
do citado Friedrich Engels, a grande maioria dos filósofos tenta mudar o mundo ao
invés de realmente analisá-lo, conforme proposto. Platão seria um exemplo
primevo. E, enquanto estudante de Jornalista, eu sou apressado demais em minhas
conclusões: seria a síntese ainda possível hoje em dia? Sim, foi uma piada de
mau gosto... Mas valeu muito a pena ter visto esta entrevista. Por mais que
isto implique em perder um amigo (ou um amante inalcançável) para não perder a
piada...
Wesley PC>
Um comentário:
eu não gosto desse "homem", apesar de compreender uma dada importância nas polêmicas dele, não vi o programa, estava muito cansado, a dias sinto uma insonia terrível.... dormir por 4 horas...
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