quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

À GUISA DE UMA DIFERENÇA ÍNTIMA (OU DE UMA SUPERAÇÃO DE PERSONALIDADE, SE ME PERMITIREM UM PITACO AINDA MAIS PESSOAL)...

Na descrição do sonho que fiz na postagem anterior, esqueci de destacar um importantíssimo elemento: quando Ricardo, o colega de Mestrado com que eu iria sair aparece em minha casa, ele tenta me convencer a ficar apaixonado pelo irmão dele, mais velho, bem mais gordo e um tanto andrógino, assemelhado ao cantor Antony Hegarty, vocalista de uma de minhas bandas favoritas, Antony and the Johnsons. Um detalhe pitoresco acerca desta banda, no que tange à minha apreciação pessoal, é que, em 2010, quando o vocalista lançou o álbum “Swanlights” (2010) e declarou que estava apaixonado, eu estranhei a sonora “feliz” de canções como “Everything is New” (faixa 01), “I’m in Love” (faixa 04) e, principalmente, “Thank You for Your Love” (faixa 08). Comentei sobre este álbum aqui e aqui, mas, neste início de 2013 em que me sinto particularmente feliz, finalmente posso entender a urgência do direito de Antony Hegarty de “desagradar” seus fãs depressivos em prol de um bem-estar interior inegável. Tenciono ouvir este álbum maravilhoso e revalorizado antes de dormir, portanto.

Pois bem, enquanto minha mãe ainda era acometida por vômitos insuportáveis, eu me esperancei quando ela adormeceu e fui para o quarto de meu irmão caçula, assistir a “As Vantagens de Ser Invisível” (2012, de Stephen Chbosky), comédia dramática adolescente que, surpreendentemente, conquistou a adesão espectatorial simpática de meu melhor amigo Jadson Teles. Vendo o filme, ao contrário dele (em nível quase extremado, aliás), eu simplesmente o detestei. Irritei-me pela imitação canhestra do personagem Holden Caulfield (protagonista do romance “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger, do qual desgosto e já comentei aqui) e, principalmente, decepcionei-me ao ver-me diante de fãs de Nick Drake, Sonic Youth, L7, Air Supply e The Smiths que, em plena década de 1980, desconheciam completamente o hino “’Heroes’”, de David Bowie, lançado em 1977. Tudo o que, no filme, parecia espertinho e gracioso em seu modismo retrô me desagradou sobremaneira, visto que este mesmo aspecto é o que mais contribuía para a legitimação ferrenha do ‘status quo’ estadunidense contido em cenas como aquela em que uma suposta ‘punk’ budista rejeita manteiga em sua pipoca quando vai assistir a “O Gabinete do Dr. Caligari” (1919, de Robert Wiene) no cinema, apenas porque é um filme estrangeiro, quanto esta mesma garota debocha de seu pai rico por colecionar vinhos antigos mas não bebê-los ou quando um rapazola pede dinheiro a seu pai e este brinca com valores monetários decrescentes em relação àquele que foi solicitado e, ao final, concede-lhe quase o dobro. Simplesmente, o filme não funcionou comigo. O detestei quase que por completo!

Se, por um lado, nem mesmo os chistes homossexuais juvenis do filme me cativaram, por outro, sou obrigado a admitir que a proclamação de infinitude ao qual o protagonista adere na cena final me encantou pela similaridade com eventos recentes grupais: ele deixa de se lamuriar por ter tendências suicidas e de se lamentar e/ou culpar por se achar culpado pela morte acidental da tia que abusou sexualmente de si na infância para assumir que, quando está ao lado de seus melhores amigos, ele se sente feliz, ele ouve boas músicas, ele encara a beleza, ele se sente bem, afinal. Eis o que acontece comigo, num cotejo compreensivo com a felicidade hodierna do Antony Hegarty: eu estou amando! Não uma pessoa em particular, mas um contexto, um conjunto de pessoas amáveis que, conforme enunciado na postagem anterior, ofereceram-me apoio irrestrito neste dia delicado em que tanto me preocupo com a saúde de minha idosa progenitora. Assim sendo, sou feliz: assumo neste instante, sem medo. Obrigado por vosso amor, criaturas que me cercam!

Wesley PC> 

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