segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

TENTATIVA DE AVALIAÇÃO DO GLOBO DE OURO, DO OSCAR VINDOURO E DO QUE É MAIS IMPORTANTE NESTA VIDA...

Na noite de ontem, eu e alguns amigos sentamo-nos para assistir ao Globo de Ouro. Era irrelevante quem de nós acertaria mais palpites na premiação, mas nossas impressões acerca de quais filmes venceriam em quais categorias diziam muito acerca do que debatemos coletivamente sobre as mudanças de enfoque hodiernas de Hollywood no que tange ao projeto político de nação. Os dois filmes vencedores nas principais categorias [“Argo” (2012, de Ben Affleck) e “Os Miseráveis” (2012, de Tom Hooper), respectivamente Melhor Filme/Drama e Melhor Filme/Musical ou Comédia], por não estarem indicados na categoria de Melhor Diretor no Oscar, provavelmente não vencerão o principal prêmio da noite de 24 de fevereiro, não obstante a grande quantidade de indicações de cada um deles (sete e oito categorias, respectivamente), mas são analiticamente importantes em mais de um sentido.

 O primeiro dos filmes, “Argo”, foi um dos que eu menos gostei da “safra Oscar” deste ano: bastante infantilizado em sua montagem convencional de ‘blockbuster’ de suspense, o roteiro do filme – bastante delicado em suas aproximações com a crítica negativa ao sistema de governo iraniano – tem como foco um elogio autocomplacente à própria Hollywood, que, aqui, é elevada a categoria filantrópica mais iminente (salvar vidas humanas). Não é um filme ruim, muito menos mal-dirigido, mas o trabalho de Ben Affleck é superestimado.

 O segundo filme, “Os Miseráveis”, por sua vez, talvez seja um dos melhores dentre todos os indicados. Belíssimo do começo ao fim, e surpreendentemente firme na direção do mediano Tom Hooper, o que mais me deixou intrigado em sua recepção deslumbrada de minha parte foi o aplainamento das condições políticas de classe no roteiro, visto que, apesar de ser uma superprodução romântica e quiçá efusiva, há uma reconstituição das lutas anarquistas na França do século XIX, onde surge o meu personagem favorito, Marius, soberbamente interpretado por Eddie Redmayne. Será que eu fui demasiadamente inebriado pelo filme e não estou a perceber suas manobras de obnubilação política diante de tanta beleza e de uma direção de arte irrepreensível? Preciso de alguém que me ajude a responder isso.

 Sendo bastante subjetivo na continuidade desta pretensa “avaliação”, achei a premiação muito ruim, apesar de um ou outro acerto benfazejo [a láurea de “Amour” (2012), mais recente filme de Michael Haneke, também indicado a Melhor Filme no Oscar; a valorização dos talentos de Hugh Jackman e Anne Hathaway no supracitado filme de Tom Hooper], os erros saltavam aos olhos [Melhor Roteiro para “Django Livre” (2012, de Quentin Tarantino); melhor atriz para Jessica Chastain], de modo que, daqui para a noite da cerimônia de apresentação do Oscar, precisarei voltar mais de uma vez a estes filmes, preferencialmente, analisando-os individualmente. Não o faço agora por causa de um problema acadêmico que ameaça me deixar com dor de cabeça nos próximos meses, mas os gérmens discursivos estão lançados: apesar de parecer apenas um grande espetáculo, faz tempo que o Oscar deixou de ser só isso. Nesta safra anual de 2012 em particular, quando a política estadunidense é o tema ostensivo de mais da metade dos filmes indicados, cabe a nós erguer vozes algumas contra-hegemônicas. Precisarei voltar ao tema, portanto.

 Wesley PC>

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