terça-feira, 9 de julho de 2013

“O OLHAR APRESSADO” (CRÍTICA CONTRA QUEM?)

Nesta segunda-feira, 08 de julho de 2013, aniversário de setenta e um anos de minha mãe, eu e diversos de meus amigos ficamos ansiosos para a chegada das vinte e duas horas, quando teríamos a oportunidade de conferir uma entrevista com o filósofo esloveno Slavoj Zizek. O curto tempo do programa (apenas uma hora e meia de duração), aliado às perguntas nem sempre interessantes e ao frenesi do entrevistado, que parecia estar sob efeito de cocaína, causou um desconforto particular em mim, que fiquei deveras decepcionado com a desorganização do programa. Enquanto futuro jornalista, incomodei-me bastante com o debate tornado raso, tamanha a desconexão entre as perguntas, que desaproveitavam os poderosos ganchos teoréticos despejados pelo filósofo, que, ao final, se define sardonicamente como “um intelectual corrupto, como qualquer um de nós”...  

Dentre os aspectos da conversa que mais me chamaram a atenção estão as menções a Peter Sloterdijk, Fredric Jameson e Francis Fukuyama, todos aparentemente amigos do filósofo, a sua brincadeira nomenclatural com o presidente cubano, a quem ele disse permanecer “fiel à castração”, o apelo à definição básica freudiana de que, principalmente no capitalismo, “as nossas necessidades são mediadas pela inveja”, e a sua confissão pela primazia da teoria quando lhe interrogam como ele enxerga as relações entre teoria e prática na atualidade. Porém, o ponto máximo do programa, foi quando ele contou a seguinte anedota:

Num debate comunista imaginário, pergunta-se se, no regime socialista adotado, haverá ou não dinheiro. Nikolai Bukharin responde: “sim, haverá dinheiro!”. Leon Trotsky recusa: “não, em nossa sociedade não haverá!”. Ao que Josef Stalin intervém, em voz alta: “é preciso fazer uma síntese dialética: em nossa sociedade haverá e não haverá dinheiro. Alguns o terão e outros não...”.

 Era uma piada, mas diz muito sobre as contradições retroalimentadas do panorama sociopolítico hodierno. Recorrendo citacionalmente muito mais a Friedrich Hegel que a Karl Marx, por conta do lançamento de um livro recente “Menos que Nada: Hegel e a Sombra do Materialismo”, o filósofo esloveno parafraseia o filósofo alemão e alega que “a Filosofia pode apenas pintar o cinza sobre o cinza”. Achei mui peculiar tal imagem retórica, ao passo em que me decepcionava com as charges desenhadas imediatamente após os pronunciamentos do entrevistado, simplificando-os em excesso, como quando, numa comparação com uma entidade hinduísta – motivada por causa da velocidade com que Slavoj Zizek mexe as mãos – o desenhista associa o filósofo a Mahatma Gandhi. Não foi bem isso o que ele tinha em mente quando sorriu ao perceber que fora cotejado a um indiano...

Minha maior chateação em relação ao programa, para além de seus visíveis defeitos constitutivos, foi a ignorância dos interessantes comentários que o entrevistado poderia lançar sobre cinema, uma de suas especialidades. Num rápido momento, entretanto, ele pode se servir de uma idéia levantada pelo analítico Stanley Cavell para definir como prevalece (ou melhor, deveria prevalecer) o fervor revolucionário nos dias hodiernos: tal como acontece nas comédias hollywoodianas das décadas de 1940 e 1950 – as dirigidas por Ernst Lubitsch, Leo McCarey e Howard Hawks, principalmente – a instauração do divórcio e, em seguida, a sua supressão e o retorno ao bem-estar marital inicial deveria ser tomado como metáfora adequada à mudança social efetiva que se segue às comemorações empolgadas diante de manifestações e/ou conclamações públicas a respeito de uma dada situação. Havia ele antecipado que, com exceção do citado Friedrich Engels, a grande maioria dos filósofos tenta mudar o mundo ao invés de realmente analisá-lo, conforme proposto. Platão seria um exemplo primevo. E, enquanto estudante de Jornalista, eu sou apressado demais em minhas conclusões: seria a síntese ainda possível hoje em dia? Sim, foi uma piada de mau gosto... Mas valeu muito a pena ter visto esta entrevista. Por mais que isto implique em perder um amigo (ou um amante inalcançável) para não perder a piada...


Wesley PC> 

Um comentário:

Jadson Teles disse...

eu não gosto desse "homem", apesar de compreender uma dada importância nas polêmicas dele, não vi o programa, estava muito cansado, a dias sinto uma insonia terrível.... dormir por 4 horas...