sexta-feira, 3 de agosto de 2012

MINI-MARATONA WALTER HUGO KHOURI - #01: “DEVE SER ELE CONSERTANDO ALGO. ELE TEM ESSA MANIA DE CONSERTAR AS COISAS...”

Segundo longa-metragem realizado pelo genial diretor Walter Hugo Khouri (1929-2003), “Estranho Encontro” (1958) marca uma transição entre o ‘thriller’ psicológico associado aos estúdios Vera Cruz [mais precisamente notado em “Appassionata” (1952, de Fernando de Barros)], para os quais o diretor inicialmente trabalhava, e a sua vocação existencial insofismável, que, ao contrário do que imputam os seus detratores, independe das comparações antonionianas, já que este filme em particular antecipa muitos aspectos de “A Aventura” (1960), por exemplo, como o contraste entre as imagens praianas e os despejos de depressão (vide foto) e a angústia compartilhada com o espectador em mais de um nível enredístico. Nesse sentido, o roteiro original de “Estranho Encontro” é absolutamente primoroso.

Inicialmente centrado na atração que se estabelece entre Júlia (Andréa Bayard) e Marcos (Mário Sérgio), depois que o segundo quase atropela a primeira quando esta foge do obsessivo Hugo (Luigi Picchi), que é atormentado por ter sofrido a mutilação de uma perna e desconta em sua amada as frustrações de sua vida de “aleijado que evita o suicídio, apesar de todo o sofrimento”. Aos poucos, as camadas de agonia passional vão se entrelaçando e complexificando: Marcos atua como gigolô da riquíssima Wanda (Lola Brah) e se sente perseguido pelo mau-humor do caseiro Rui (Sérgio Hingst), que telefona para Hugo, informando do paradeiro da fugitiva Júlia, quando lê um anúncio de jornal e reconhece a mulher que Marcos esconde num depósito de coisas velhas na residência de Wanda. Como sói acontecer na obra khouriana, aqui há alguém que ama alguém que ama outro alguém que, por sua vez, talvez ame mais de um alguém, mas que causará sofrimento em outrem. E, nesse aspecto, a imagem final do filme é primorosa: não apenas por dignificar sobremaneira a excelente personagem de Lola Brah ou por alavancar a minha identificação ferrenha com o filme e seus personagens, mas também por antecipar o estilo coerente e minuciosamente singular que Walter Hugo Khouri impingiu em cada uma de suas obras. Em minha opinião, ele não é apenas um dos maiores gênios cinematográficos do Brasil, mas do mundo inteiro!

Oficialmente, privo-me de analisar mais detidamente os detalhes deste ótimo filme porque me sinto particularmente contemplado com o que li aqui, mas adianto que, para além da supressão rigorosa da masturbação masculina e do homossexualismo entre homens no ‘corpus’ khouriano, dois temas que me são muitíssimo caros, como todos sabem, despejo-me largamente em seus alter-egos, sendo que, neste filme em particular, não tem jeito: sou a Wanda! Por isso, talvez eu ainda esteja chorando com ela, depois daquele belo e pungente final...

Wesley PC> 

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