terça-feira, 31 de julho de 2012

“E, NO FINAL DA TARDE, TODOS VOLTAVAM DA FEIRA: ALGUNS COM DINHEIRO NO BOLSO, OUTROS CARREGANDO AQUILO QUE NÃO CONSEGUIRAM VENDER...”

Não lembro se o texto é exatamente este, mas, junto com a sequência que anuncia doze horas em doze diferentes relógios, tal trecho foi o que mais me encantou no gracioso documentário em curta-metragem “Famalicão” (1940), realizado por Manoel de Oliveira quando ele tinha pouco mais de 31 anos de idade. Em verdade, é um filme menor, sobre cidade em que um dos escritores preferidos do cineasta, Camilo Castelo Branco (1825-1890), se suicidou com um tiro na têmpora direita, depois que descobriu que estava progressivamente cego em decorrência de uma sífilis.

 O detalhe patológico não foi acrescido à inusitada e divertida narração do filme, mas acho de bom tom destacá-lo na tarde de hoje, quando me senti inicialmente deslocado numa aula sobre Geografias da Comunicação, até que a professora me intimou a falar e eu percebi que tinha muito mais a ver com o tema do que pensava. E, ao final, desembestei a falar do bairro em que vivo, das minhas iracundas frustrações com o meu orientador, de tudo aquilo que me incomoda e ainda faz com que eu goze de um mínimo de atenção em relação àqueles que me cercam. Tal como o filme, o impacto foi muito mais efetivo após a sessão do que durante. A vida prega-nos esse tipo de surpresa de vez em quando. E que venha a noite e suas promessas...

 Wesley PC>

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