quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O MARCELO RIBEIRO É, AFINAL, UM “MARCELO” LITERAL. MAS NEM ELE DEIXOU DE SUCUMBIR...

Numa cena magistral de “Eros, o Deus do Amor” (1981), obra-prima de Walter Hugo Khouri, o personagem Marcelo (vivido na idade adulta por Roberto Maya, que nunca mostra o rosto, e numa segunda fase da infância por Marcelo Ribeiro) é intimado por sua professora de inglês (Kate Lyra) a repetir algumas partes do corpo naquele idioma. “Neck, one foot, two feet, breats” e assim por diante. Eu e meus companheiros de sessão ansiávamos para que ela dissesse “pussy”, mas ela prefere fazê-lo na prática, numa cena posterior em que o garoto a flagra masturbando-se, como é instante comum nos filmes khourianos: as mulheres masturbam-se. Percebendo que o menino a espia dentro de um guarda-roupa, a professora despe-se completamente diante dele e deita-se sobre o mesmo. O intérprete do garoto tinha 11 anos à época. No ano seguinte, ele se deitaria sobre a apresentadora Xuxa Meneghel [no ótimo e perturbador "Amor, Estranho Amor" (1982)] e ficaria famoso por isso. Tão famoso que seria futuramente convidado para participar de um ridículo vídeo pornô franquiado que se aproveita do título do filme polêmico. E, neste percurso todo, falou-se sobre tudo (de exortação à pedofilia até difamação de carreiras), menos sobre a qualidade indissolúvel dos filmes khourianos!

Assisti, na noite de ontem, ao filme citado na primeira linha deste texto e fiquei absolutamente apaixonado com o que vi. Mais que isso, continuo impressionado, chocado, escandalizado com a grandiosidade do talento erótico e existencial de Walter Hugo Khouri. Tentei esboçar algumas palavras elogiosas aqui e aqui, mas, em ambos os casos, fui obrigado a me render a uma tartamudez emotiva: o filme diz tanto sobre mim, sobre aspectos de meu ser que ainda não me sinto apto a divulgar ou compreender que eu me rendo. Eu me rendo! Walter Hugo Khouri é um dos autores mais inspirados e audaciosos que já tive o prazer de descobrir aqui no Brasil, um homem que se doou por completo a um modo de fazer cinema que desnudava o indivíduo, o ser humano, em sua gênese psicofilosófica. Coisa muito peculiar, singular, despejava em orgasmos que angustiam muito mais do que excitam, ainda que ambas as conseqüências espectatoriais sejam concomitantes. Não é mais ou menos assim que a vida se apresenta diante de nós? Por essas e outras, fico muito triste com o que é mostrado abaixo: muito triste mesmo! Mas, como diz, sabiamente, o senso comum: “é a vida”...

 Wesley PC>

Nenhum comentário: