sexta-feira, 3 de agosto de 2012

PODE-SE DIZER QUE “LANCELOT DO LAGO” (1974, de Robert Bresson) É UM FILME DE AMOR?

Como legítimo pascaliano que é, Robert Bresson realiza filmes de amor. O destinatário deste amor, entretanto, confunde-se, não raro, com o “Deus invisível” e é justamente por causa d’Ele que a tragicidade anunciada nas lendas da Távola Redonda são convertidas num doloroso conjunto de diálogos entre o personagem-título (Luc Simon, numa interpretação quase gritada que difere bastante dos demais “modelos” bressonianos) e a rainha Guinevere (Laura Duke Condominas), apaixonada por ele. Os dois se amam – ou melhor, são exortados a amar – mas, ao pensarem em levar à frente este amor, talvez carreguem consigo um pecado, a ameaça do adultério. Isso não apenas atordoa o exímio cavaleiro Lancelot, acostumado a degolar inimigos nas inúmeras batalhas de que participou, como interfere no desenvolvimento combativo dos demais asseclas do Rei Arthur (secamente vivido por Vladimir Antolek-Oresek), em especial o zeloso Gauvain, vivido pelo belo e expressivo Humbert Balsan, que, mesmo obrigado a olhar para baixo durante boa parte da extensão do filme – como era caro àqueles que se submetiam à rígida direção bressoniana – encanta-nos com sua dramaticidade iridescente, conforme demonstra a cena metonimizada na imagem, quando ele morre, pouco antes de perdoar o seu fatal agressor Lancelot.

 Dentre os diversos aspectos surpreendentes e encantadores do filme, deve-se dar particular importância ao modo absolutamente audacioso com que o diretor filmou as cenas de combate, focalizando prioritariamente os membros inferiores dos cavaleiros e/ou detalhes dos seus cavalos. Além disso, as elipses no enredo proto-aventureiro são impressionantes, deixando claro que, para o diretor e roteirista, o que importa é a confirmação afirmativa do que é perguntado no título desta postagem: “Lancelot do Lago” é um filme de amor, sobre amor e embebido de amor do começo ao fim, como qualquer outra produção egrégia realizada por este originalíssimo diretor francês. E, após a sessão – tanto quanto antes e durante ela – eu amei. É o mínimo que posso fazer na minha voluntária tarefa de servir a Deus...

 Wesley PC>

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